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Argentina/Gana

Marinheiros argentinos detidos em Gana chegam a Buenos Aires

A maioria dos 326 marinheiros da fragata Libertad, símbolo da Marinha argentina, chegaram ao aeroporto de Buenos Aires nesta madrugada, vindos de Gana, onde o navio-escola argentino está preso desde o dia 2 de outubro. A Argentina poderia pedir ajuda ao Brasil para o diálogo político com Gana.

Marinheiros da fragata argentina Libertad, chegam à  Argentina após 3 semanas de detenção.
Marinheiros da fragata argentina Libertad, chegam à Argentina após 3 semanas de detenção. REUTERS/Stringer
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Márcio Resende, correspondente em Buenos Aires

De um lado, os aplausos dos parentes. Do outro, a tristeza da tripulação e as expressões de nacionalismo. Assim chegaram nesta madrugada aqui a Buenos Aires os 281 marinheiros que foram retirados do navio-escola argentino.
A fragata está há mais de três semanas detida pela Justiça de Gana a pedido de um fundo de investimento. "Estou feliz pelo reencontro com a minha família, mas triste, muita tristeza, por ter deixado a fragata. Eu amo a Argentina e amo a fragata. Para mim, foi muito duro", desabafou o marinheiro Ariel Bejarano.

Entre os que voltaram está o segundo-tenente Lailton Souza Jorge, de 26 anos, marinheiro brasileiro, tripulante convidado pela Marinha argentina. Ficaram ainda na embarcação presa no porto de Tema, em Gana, o capitão e 44 marinheiros necessários para a manutenção diária da fragata.
A evacuação e o regresso a casa mais cedo de avião marcam o fracasso político e diplomático do governo argentino depois de três semanas de nulas gestões.

A Argentina nega-se a negociar uma dívida com o fundo de investimentos NM que é a condição imposta pela justiça para libertar a fragata-ironicamente- chamada Libertad. A fragata foi embargada pela Justiça de Gana que acatou o pedido do fundo de investimento que exige o pagamento de uma dívida de 370 milhões de dólares, referentes a títulos públicos argentinos em moratória desde dezembro de 2001.

Há quase 11 anos, a Argentina declarou a moratória da sua dívida de 102 milhões de dólares que foi renegociada em 2005 e 2010. No total, 93% dos credores aceitaram uma redução em torno de 65%, mas alguns fundos de investimento não aceitaram a oferta e disputam com a Argentina nos tribunais internacionais. Esses fundos conhecidos como "fundos abutres" dedicam-se a especular com a dívida de país que quebraram.
Em consequência da disputa, a Argentina procura evitar a captura judicial de bens estatais como o avião presidencial e a fragata Libertad, cujos roteiros são alterados a fim de evitar países, como os Estados Unidos e Europa, onde a penhora pode ocorrer.

Negociação internacional

Para libertar agora a fragata, a Argentina deveria pagar uma fiança de 20 milhões de dólares. Mas a Argentina alega que a fragata é um navio de guerra e possui imunidade internacional. "Poderão ficar com a fragata, mas não com a nossa dignidade", concluiu a presidente Cristina Kirchner, depois de explicar que "a Argentina não vai negociar com 'fundos abutres' que extorquem o país".

O caso foi levado na segunda-feira pelo chanceler argentino, Héctor Timmerman, à ONU. Do presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, Gert Rosenthal, a Argentina ouviu que o Conselho não pode tratar da questão porque "o caso não ameaça a paz mundial", mas que o problema "preocupa" e que "afeta do direito internacional". Perante a solidão internacional, informações extra-oficiais indicam que o embaixador argentino em Brasília, Luis Maria Kreckler, teria pedido ajuda ao Itamaraty, a partir da significativa e crescente presença da diplomacia brasileira na África.

Por via das dúvidas, os marinheiros voltaram num voo da companhia Air France. Embora a companhia estatal Aerolineas Argentinas alegue falta de disponibilidade de aviões, versões indicam que o governo argentino temeu que um avião estatal também ficasse preso em Gana ao tentar resgatar os marinheiros.

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