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Argentina/Brasil

Negociações entre Brasil e Argentina para reativar comércio bilateral estão congeladas

Terminou sem acordo a reunião para tentar reverter a queda no comércio bilateral de veículos. Essa queda tem afetado a produção de automóveis e as montadoras já começam a pensar em demissões em pleno ano eleitoral. O Brasil oferece linhas de crédito, mas a Argentina redobrou a aposta e agora impõe condições para aceitar o crédito brasileiro.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil (MIDC), Mauro Borges, esteve em Buenos Aires para negociar com o governo argentino acordo bilateral. 22/04/14
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil (MIDC), Mauro Borges, esteve em Buenos Aires para negociar com o governo argentino acordo bilateral. 22/04/14 Divulgação-ABDI
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Quando o governo brasileiro pensava que o eixo da reunião seria definir as características técnicas das linhas de crédito do Brasil para a Argentina, destinadas a reativar o comércio bilateral, os argentinos impuseram condições para aceitar o crédito brasileiro. Querem agora rediscutir todo o comércio automotivo.

Com as negociações travadas, a reunião durou apenas pouco mais de uma hora. A delegação brasileira, liderada pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, contou também com o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e com o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Caffarelli. Pelo lado argentino, o ministro da Economia, Axel Kicillof, a ministra da Produção, Débora Giorgi, e o presidente do Banco Central argentino, Juan Carlos Fábrega.

O ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Mauro Borges, evitou qualquer contato com a imprensa, saindo por um setor reservado do Ministério da Economia em Buenos Aires.

Na terça ou na quarta-feira da próxima semana, dessa vez em São Paulo, haverá uma nova reunião entre os governos dos dois países com a participação agora do setor automotivo.

Após a reunião, a Assessoria de Imprensa do ministro Borges indicou aos jornalistas brasileiros em Buenos Aires que "os dois governos vão tentar equalizar uma proposta conjunta para o financiamento das exportações" e definir "qual é o papel de cada governo nesse processo" que contará com a presença de representantes do "setor automotivo para ver quais contra-partidas também farão".

Ministro pede fim da restrição a entrada de mercadorias

O ministro brasileiro do Desenvolvimento, Mauro Borges, queria como contrapartida para a linha de crédito do Brasil que o governo argentino se comprometesse a não restringir mais a entrada de mercadorias brasileiras na Alfândega. O nível de reservas do Banco Central argentino é preocupante e os importadores argentinos sofrem limitações para terem acesso aos dólares. O Brasil tem interesse em resolver essa dificuldade da Argentina para poder vender.

Mas, segundo fontes presentes na reunião, foi o ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, quem fez duas exigências como contra-partida para aceitar o financiamento brasileiro.

Em primeiro lugar, Kicillof quer que o comércio bilateral automotivo tenha um resultado equilibrado na balança comercial, hoje favorável ao Brasil. A Argentina vende mais automóveis ao Brasil mas importa muito mais auto-peças. O déficit argentino no setor chegou a 2,7 bilhões de dólares no ano passado.

O segundo ponto é quanto ao desvio de comércio por parte do Brasil. Os automóveis argentinos perderam mercado no Brasil enquanto os de países de fora do Mercosul ganharam. No primeiro trimestre de 2014, as importações brasileiras de automóveis argentinos caíram em 14,3%.

O setor automotivo representa metade do comércio bilateral total cuja queda foi de 17% no primeiro trimestre de 2014 em relação ao mesmo período do ano passado. Enquanto as vendas brasileiras à Argentina diminuíram 13%, as da Argentina ao Brasil caíram ainda mais: 21%.

Os setores automotivos de Brasil e Argentina, integrados e dependentes um da economia do outro, podem passar da atual fase de suspensões temporárias de trabalhadores a demissões. A produção de veículos do Brasil caiu 8,4% no primeiro trimestre e a da Argentina, o dobro, 16%.

O ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, deixou claro que não haverá acordo na semana que vem para facilitar a entrada de veículos brasileiros se o Brasil não passar a comprar mais da Argentina.
 

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