Acesso ao principal conteúdo
México/Crime

Estado não foi cúmplice do desaparecimento dos estudantes, diz secretário mexicano à RFI

O subsecretário para direitos humanos do México, Juan Manuel Gómez Robledo, está viajando por cidades europeias para explicar como o seu país está lidando com a crise política atual. Os mexicanos estão há semanas protestando contra o desaparecimento de 43 estudantes da escola Ayotzinapa. Nos estúdios da RFI em Paris, Robledo reconheceu que a impunidade é um problema do país, mas negou qualquer tipo de cumplicidade do governo de Henrique Peña Nieto.

Juan Manuel Gómez Robledo é subsecretário de Assuntos Multilaterias e Direitos Humanos do México.
Juan Manuel Gómez Robledo é subsecretário de Assuntos Multilaterias e Direitos Humanos do México. Unctad/Creative Commons
Publicidade

por Braulio Moro, da RFI em Espanhol.

Como se chegou a essa situação de horror, qualificada como crime de Estado por muitas entidades de direitos humanos?

O México sofre há muitos anos com o crime organizado, que tem a ver com tráfico de drogas e com crescimento geral do crime organizado na América Latina. Não é exclusivo do México e não somos a pior região, o que não é nenhum consolo. Mas a média nacional (de crimes) diminuiu, porque nossa estratégia se focou em dois aspectos: maior uso da inteligência e coordenação entre os três níveis de governo. Com isso, 87 dos 122 líderes de grupos de delinquência organizada mais procurados foram presos em dois anos do nosso governo. Na imensa maioria dos casos, sem recorrer à violência.

O governo disse ontem que vai dobrar as busca pelos jovens e agora lhes chamam de “não localizados”. Como isso será feito?

Até que não haja os resultados das provas forenses, nosso compromisso é seguir buscando os desaparecidos com vida. Há um desenvolvimento importantíssimo desde o momento em que o governo federal assumiu a investigação. Estamos trabalhando com as famílias, com que o ministro do Interior e o da Justiça se reuniram ontem. Elas estão apontando para onde dirigir a busca.

Uma revista de negócios disse essa semana que o presidente mexicano perdeu o respeito e a confiança que ganhou nos dois primeiros anos de bem-vindas reformas econômicas que promoveu. O governo esta consciente dessa perda de confiança?

Não acho que seja perda de confiança, é uma grande chamada de atenção que nos obriga a fazer os mesmos esforços que fizemos nos últimos anos para defender os direitos humanos. México é o país do continente americano mais aberto ao escrutínio internacional sobre direitos humanos. Há um problema de impunidade, claro, mas é por isso que uma das grandes reformas que promovemos foi o trânsito do sistema de justiça inquisitorial para o sistema oral. Estamos fortalecendo as capacidades da Polícia Federal, com apoio de países como a França. Criamos uma gendarmeria inspirada no modelo francês, que agora tem 5 mil oficiais e atua nas regiões em que há corrupção das policias locais. Neste caso lamentável de Igualo, não há impunidade, já foram presas mais de 60 pessoas.

O ônibu em que viajavam os estudantes parou a 100 metros de uma base do exército. Por que as Forças Armadas não intervieram?

Não tenho condições de comentar. As Forças Armadas só podem intervir com uma petição do poder civil. As Forças Armadas não tiveram nada a ver com este caso. Não interviram e não foram acusadas de ter participado direta ou indiretamente dos eventos.

O presidente Peña Neto se reuniu com os familiares mais de um mês depois do ocorrido. Por que tanto tempo?

O presidente esteve acompanhando situação desde o minuto que aconteceu. Em uma entrevista no dia seguinte, ele exortou o governo local a assumir sua responsabilidade e ofereceu todo o apoio federal. O presidente também se comprometeu que o governo solicitaria a ajuda da Comissão Interamericana de Direitos Humanos para que uma equipe de especialistas revise toda a atuação do Estado e gere transparência. Se tudo der certo, assinaremos na Cidade do México o acordo para que a Comissão Interamericana possa atuar.

Nos últimos nove anos, foram descobertos mais de 30 fossas comuns como as do Estado de Guerrero. É uma fossa comum a cada três meses. O México se tornou um grande cemitério?

O México enfrente problemas muito sérios em segurança, mas avançou. Há desafios muito grandes, mas o país mostrou capacidade de recuperação. Quando há uma bom investimento de recursos e associação entre todos os setores da sociedade,e há avanços.

O senhor pode assegurar que não há cumplicidade do Estado com este crime?

Não há de nenhuma maneira. Há debilidades institucionais, há corrupção, mas o calor que se vê hoje no México é resultado de um amadurecimento muito importante da sociedade civil. Ela reagiu como nunca havia feito, e o governo também. Porque incorporamos padrões de direitos humanos em nossas políticas e há uma maior consciência que faz com que o governo seja acionado com contundência.

Se as manifestações crescerem, o que fará o governo?

Nos momentos mais complicados que vivemos, o México manteve o respeito aos direitos e liberdades fundamentais. Nunca houve estado de exceção. Avançamos sempre na normalidade democrática e uma das expressões dela é a liberdade de expressão.

Barack Obama chamou o caso de muito grave. Como as autoridades europeias estão reagindo?

Autoridades francesas reagiram com compreensão e empatia em relação às ações do governo, sem deixar de manifestar a legítima preocupação com esta situação, mas confiando que vamos seguir adiante com o apoio da comunidade internacional.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Partilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.