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Cuba/EUA

Aperto de mão entre Obama e Castro marca início de Cúpula das Américas histórica

Um aperto de mão entre o presidente americano Barack Obama e o ditador cubano Raul Castro, na sexta-feira (10), no Panamá, deu a largada para uma Cúpula das Américas que promete ser histórica. Este foi o primeiro encontro oficial entre líderes dos dois países desde a reunião entre Dwight Eisenhower e Fulgencio Batista, em 1956. Também a primeira vez que a ilha caribenha está representada no evento, que existe desde 1994.

Barack Obama e Raul Castro na abertura da Cúpula das Américas, no Panamá.
Barack Obama e Raul Castro na abertura da Cúpula das Américas, no Panamá. REUTERS/Panama Presidency
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Com informações de Anne-Marie Capomaccio, enviada especial da RFI ao Panamá.

Obama e Castro estão entre os 35 chefes de Estado e de governo que foram ao Panamá. Eles se encontraram na sexta-feira antes do jantar de abertura e devem ter uma reunião formal neste sábado, a primeira desde a Revolução Cubana de 1959. Logo após tomar o poder, Fidel Castro chegou a viajar aos Estados Unidos, mas foi recebido pelo então vice-presidente, Richard Nixon. Em seguida, em 1962, Cuba foi banida da Organização dos Estados Americanos (OEA), a pedido dos EUA, e desde então não tinha o direito de participar de eventos oficiais deste tipo.

Desta vez, não foi apenas um aperto de mão furtivo, como o ocorrido no funeral de Nelson Mandela, na África do Sul, em 2013. A intenção agora foi endossar de forma oficial a retomada das relações entre os dois países anunciada em dezembro de 2014. O cumprimento aconteceu após um encontro entre os dois ministros das relações exteriores dos dois países, ocorrido na véspera. Após o registro dos fotógrafos e uma troca rápida de palavras, os dois jantaram na mesma mesa, acompanhados por um representante do Papa Francisco. O pontífice teve papel importante nas negociações que reaproximaram Havana e Washington.

Apesar do primeiro contato diante das câmeras, a reunião deste sábado deve ser a portas fechadas. Washington garante que a reaproximação com Cuba não será feita a qualquer preço. Obama participou, na sexta-feira, de um fórum de organizações da sociedade civil, que manifestaram inquietação diante da nova postura diplomática. Alguns opositores cubanos, que até agora contaram com apoio de Washington, são os mais céticos.

No encontro, Obama tentou transmitir segurança ao grupo, afirmando que os Estados Unidos “continuarão a apoiar aqueles que lutam pela liberdade”. “Nós teremos discordâncias com Cuba em diversos temas, como acontece inclusive com os nossos aliados mais próximos. Não há problema nisso. Mas eu estou aqui para garantir que os Estados Unidos lutarão sempre por alguns valores universais”, declarou o presidente americano.

“Época de intervenção acabou”

Em seu discurso, Obama também apontou uma mudança nas relações entre Estados Unidos e a América Latina: “A época em que a nossa agenda política neste hemisfério significava que podíamos intervir impunemente acabou”. A frase surpreendeu por fazer referência clara a episódios do passado que Washington prefere esquecer e deve ter repercussão no congresso americano, onde os republicanos, em maioria, já consideram a reaproximação com Cuba um sinal de fraqueza.

Obama também fez um sinal para aqueles que exigem cobrança em relação à situação dos direitos humanos na ilha. “Quando defendemos alguém que está preso simplesmente por dizer a verdade diante do poder, nós não o fazemos porque isso serve a nossos interesses. Fazemos porque achamos que é o justo”, disse Obama.

Análise

A 7ª Cúpula das Américas deve representar uma mudança histórica. Para Simon Sarfati, professor do Centro de Estudos de Relações Internacionais de Washington (CSIS), o momento marca “o fim deste absurdo que persiste há 55 anos”. “Os americanos nunca superaram o comportamento de Fidel Castro durante a crise dos mísseis. Mas isso já faz 55 anos, é preciso se livrar dos resquícios das guerras do passado”, diz o professor.

Medea Benjamin, fundadora de Codepink, um grupo pacifista bastante ativo nos Estados Unidos, viajou até o Panamá para acompanhar a Cúpula e presenciar o tão aguardado aperto de mão. Para ela, a normalização da relação entre os países era uma necessidade histórica, mas Obama deve fazer mais e, principalmente, agir com mais rapidez. “Muito mais poderá ser feito se o presidente agir por decretos. Ele pode, por exemplo, facilitar as viagens a Cuba, além de retirar algumas restrições econômicas. Outro exemplo: existe um medicamento que Cuba desenvolveu para quem sofre de diabetes e que poderia ajudar 80 mil americanos”, afirma Benjamin.

A ativista acredita que Obama tomou uma decisão ideológica ao autorizar a importação de produtos cubanos do setor privado, mas não os produzidos pela ditadura da ilha. “Rum e charutos são produzidos na indústria estatal, e nós deveríamos poder importar estes produtos também”, defende Benjamin.

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