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Brasil/ Copa

Policiais não descartam parar durante a Copa

Os policiais civis de 13 Estados e o Distrito Federal paralisaram as atividades por 24 horas nesta quarta-feira (21), para pedir “um novo modelo de segurança pública”, com reajuste de salários, plano de carreira e modernização das instalações. Apenas casos graves, como roubos e homicídios, estavam sendo tratados. Eles não descartam parar as atividades durante a Copa do Mundo, que se inicia em 20 dias.

Cartaz no Rio de Janeiro adverte para o risco de greve de policiais durante a Copa.
Cartaz no Rio de Janeiro adverte para o risco de greve de policiais durante a Copa. REUTERS/Ricardo Moraes
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Policiais federais e rodoviários não fazem greve, mas participam de protestos em todo o país. Na semana passada, a paralisação de policiais militares em Recife gerou um clima de caos na cidade.

Os sindicatos de policiais civis vão voltar a se reunir na semana que vem para definir o futuro do movimento, caso os governos não atendam às reivindicações. Heber Souza, secretário-geral do Sindicato dos Escrivães de Polícia do Estado de São Paulo, reclama que os policiais paulistas não receberam treinamento adequado para um grande evento internacional como o Mundial de futebol.

“São Paulo, que sedia a abertura, não deu nenhum tipo de estrutura ou aparelhamento para que o policial pudesse atender à demanda de turistas. Não houve treinamento prévio para atender casos mais complexos como atentados, tumultos, coisas que acontecem em eventos desse porte”, diz. “São Paulo ignorou a magnitude do evento.”

O consultor em segurança Marcus Vinícius Reis avalia que o país está mal-preparado principalmente para combater a ameaça terrorista durante a Copa. Apesar dos planos do governo, sequer o crime de terrorismo foi tipificado.

“O Brasil parece que ainda não acordou para isso, como se a gente fosse invulnerável e nunca fosse acontecer um atentado terrorista aqui. Mas acontecem: os ataques do PCC foram vários atos terroristas em São Paulo”, observa. “Eu acredito que os policiais não receberam treinamento, principalmente porque o Brasil não tem uma legislação sobre o tema. Os cursos da polícia são voltados para o Código Penal, onde não há previsão alguma sobre o terrorismo.”

Negociações ou braços cruzados

O secretário-geral do Sindicato dos Escrivães de São Paulo afirma que o modelo da polícia brasileira é “arcaico e burocrático”. As más condições tecnológicas de trabalho fazem com que apenas 2% dos crimes sejam elucidados em São Paulo. Para Souza, está nas mãos do governo impedir que os policiais cruzem os braços durante a Copa.

“O último recurso é o prejuízo à sociedade, e principalmente para a imagem do Brasil no exterior. Nós queremos avançar nas negociações e temos o espaço democrático para isso”, argumenta. “Agora, é necessário que o governo entenda e seja sensível a essa situação. A tendência por uma paralisação é forte, mas ainda não podemos dizer quando ela vai ocorrer: se durante ou após o evento. Isso vai ser avaliado pelas entidades.”

No Rio de Janeiro, o foco do protesto é no aumento salarial de 80% e a incorporação das gratificações.  Fernando Bandeira, presidente do Sinpol, o sindicato fluminense de policiais civis, observa que um delegado ganha até 85% a mais do que os demais servidores. “O salário é muito baixo. Os policiais mais novos entram e logo saem fazer outros concursos. Não querem ficar aqui”, relata.

Na França, greve é proibida

Na França, os policiais civis ou militares são proibidos por lei de promover greve. Os policiais civis, entretanto, têm o direito de protestar. A categoria é uma das mais sindicalizadas do país. A maioria das manifestações ocorre em resposta a algum escândalo.

“Eles se manifestam fora do horário de trabalho. Houve algumas exceções, momentos de ‘indisciplina’, digamos. Há dois anos, por exemplo, um policial foi preso e indiciado por homicídio depois de matar um fugitivo procurado por vários crimes em Seine Saint-Dennis, na região parisiense”, explica Mathieu Zagrodzki, pesquisador sobre segurança e professor da Sciences Po, em Paris. “O caso gerou uma onda de protestos muito intensa por parte dos policiais. Eles protestaram na avenida Champs Elysées, a bordo de viaturas com as sirenes ligadas. Este foi um caso recente de violação do direito à greve, porque eles não podem usar o veículo de serviço para protestar.”

Já os militares, responsáveis pela segurança nas ruas, sequer podem ter sindicatos – por isso, são apelidados de “caladões”. “Não há um verdadeiro grupo de pressão social na polícia militar. Normalmente isso cabe a pessoas que estão de fora das Forças Armadas, mas que um dia fizeram parte dela, como aposentados ou militares que trocaram de profissão”, afirma Zagrodzki.

O especialista francês observa que tanto os militares quanto os policiais civis dispõem de um canal privilegiado de negociação salarial com o governo, que faz questão de manter as forças de segurança bem equipadas.
 

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