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Porto Alegre abandonou o sonho da democracia participativa, lamenta o Le Monde

Em uma série de reportagens sobre as transformações sociais e políticas recentes no Brasil, o Le Monde faz uma parada em Porto Alegre para entender por que a capital gaúcha abandonou a experiência do orçamento participativo, vitrine do PT no Estado, implantada na gestão municipal de Olívio Dutra, em 1989. O ex-governador do Rio Grande do Sul diz ao jornal que a burocracia e divisões no partido enfraqueceram a iniciativa".

Policiais do Rio Grande do Sul dispersam protesto contra a Copa do Mundo no dia de abertura do Mundial, em São Paulo.
Policiais do Rio Grande do Sul dispersam protesto contra a Copa do Mundo no dia de abertura do Mundial, em São Paulo. REUTERS/Marko Djurica
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"Estranho panorama. A cidade que já foi símbolo da democracia participativa, hoje dá a impressão de ter se acomodado. É o microcosmo de um Brasil imutável", afirma Le Monde.

Esse sistema de controle dos gastos públicos permitia à sociedade civil dar sua opinião sobre os investimentos da prefeitura, lembra o diário francês. A iniciativa gaúcha inspirou manifestantes antiglobalização que participaram do Fórum Social Mundial em 2001 e tornou-se símbolo da gestão local do PT. "Cerca de 53 mil famílias de bairros pobres obtêm a regularização de suas moradias, a população com acesso à rede de esgoto passa de 46% a 74% e a redistribuição do investimento público beneficia as periferias pobres", destaca o Le Monde.

Burocratização

O jornal entrevista militantes do partido, defensores do projeto no passado e Olívio Dutra para entender as razões do enfraquecimento da experiência. "Houve divisões dentro do partido e uma burocratização do processo", justifica o ex-governador.

Depois de dirigir Porto Alegre durante 16 anos, o PT perdeu as eleições para a prefeitura, em 2004, e naquela época já era visível uma insatisfação da classe média, comenta Le Monde. A coalizão encabeçada pelo PPS, que chegou ao poder, ainda manteve o orçamento participativo, mas o integrou a um processo de governança local favorável às empresas, e não mais à população carente.

Recentemente, com as obras de infraestrutura ligadas à Copa do Mundo e a remoção de 6 mil famílias de áreas desapropriadas, moradores de bairros pobres de Porto Alegre, como o líder comunitário José Araújo, afirmam ter "a impressão de que as coisas estão voltando para trás".

PT precisa de vozes críticas, afirma Dutra

Olívio Dutra reconhece que não será fácil para o partido reconquistar a prefeitura da capital gaúcha. "O Brasil precisa de vozes críticas, e o PT deve ir mais longe porque as pessoas querem outras coisas além de estádios de futebol, querem muito mais do que as conquistas de Lula e Dilma", afirma o ex-governador.

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