Para analista francês, "contexto emocional" explica subida de Marina
Depois da morte e do enterro do ex-candidato Eduardo Campos neste domingo (17), a campanha presidencial no Brasil entra em uma nova fase. Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha revela que Marina Silva, que deve oficializar sua candidatura pelo PSB, venceria Dilma no 2° turno. Dois cientistas políticos franceses analisam o novo cenário eleitoral no Brasil.
Publicado a: Modificado a:
De acordo com os resultados, se as eleições fossem hoje, Dilma Rousseff (PT) teria 36% dos votos, Marina Silva, 21%, e Aécio Neves (PSDB), 20% -quase um empate técnico. Num segundo turno entre Dilma e Aécio, a presidente levaria vantagem com 47%. Aécio teria 39%. Já contra Marina, Dilma ficaria com 43% e Marina venceria com 47%. A pesquisa ouviu os eleitores entre os dias 14 e 15 de agosto.
Os resultados mostram como a trágica morte de Campos cria um cenário eleitoral totalmente novo para as eleições de 5 de outubro. Segundo o analista político Gaspard Estrada, da Universidade Sciences Po, fica claro que já não divergências internas dentro do PSB.
"A pesquisa é um sinal de força para confirmar a candidatura da Marina. Havia no Partido Socialista Brasileiro algumas lideranças que questionavam essa candidatura, essa inversão na chapa", diz Estrada. Os resultados da pesquisa acabam com essa incerteza, e as divergências quase públicas: de um lado, a família da Marina que defende abertamente sua candidatura e de outros lideranças expressivas do PSB contrários", diz.
Gaspar Estrada, cientista político da Universidade Sciences Po
Segundo ele, a questão agora é saber se a candidata conseguirá manter esse eleitorado potencial até a data das eleições. "A campanha na TV e no rádio começa amanhã, Dilma tem muito espaço na TV, quase o triplo da Marina e do Aécio. Sobretudo porque a própria pesquisa mostra que o momento é favorável à Dilma. A rejeição está caindo, e a intenção de voto está crescendo."
Para o professor de Ciências Políticas Stéphane Montclaire, da Universidade de Paris I, a pesquisa foi realizada em um contexto "fortemente emocional". Segundo ele, ainda é preciso esperar o programa de Marina Silva ser divulgado para confirmar a tendência.
"Marina soube aproveitar de sua exposição na mídia"
"As intenções de voto a favor da Marina vão mudar nos próximos dias, porque a população não conhece ainda a ‘oferta eleitoral’ dela. A reação da população é influenciada pela emoção dos últimos dias, exposta à imagem de Marina nas mídias. E ela soube usar dessa presença gigantesca nas mídias", diz Monclaire.
Para ele, "no entanto, o programa dela ainda é vago. Será que ela vai manter as posições conservadoras nas questões sociais ? E o programa econômico?Quais vão ser os apoios políticos?", questiona Monclaire. Ele também destaca que, até agora, "nenhum candidato conseguiu encarnar esse desejo de mudança, o que acontece com Marina, que também encarna algumas reinvidicações das manifestações de 2013, que é um candidato sem partido."
Stéphane Monclaire, analista político e professor da Sorbonne
De acordo com Monclaire, por sua ligação com as causas ambientais, Marina "consegue agradar eleitores progressistas e conservadores", conclui.
*Entrevistas de Letícia Constant
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro