Alpinista brasileiro diz que renasceu ao sobreviver à avalanche no Nepal
O guia de montanha e trekking Carlos Santalena, de 28 anos, de Campinas (SP), foi ao Nepal no mês de abril trabalhar. Ele levou 29 brasileiros para uma expedição ao Himalaia, um lugar por onde se diz apaixonado. O paulista, acostumado a grandes aventuras, não imaginava que enfrentaria o maior desafio de sua vida: sobreviver ao terremoto de 7,9 na escala Richter que devastou o Nepal no último sábado (25). "Foi o dia do meu renascimento", disse, em entrevista à RFI.
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Santalena é um dos sócios da agência de viagens brasileira Grade6. Ele foi ao Nepal acompanhado de seu amigo e parceiro José Eduardo Sartor com dois objetivos, guiar a expedição com 29 brasileiros no Himalaia e escalar a quarta maior montanha do mundo, a Lhotse, entre o Nepal e a China, de 8 mil metros.
O paulista é reconhecido internacionalmente no meio do montanhismo. Ele foi o brasileiro mais jovem a chegar ao pico do monte Everest, aos 24 anos de idade. Na bagagem, Santalena tem mais de 12 anos de experiência e já chegou ao cume das maiores montanhas do mundo, entre elas o Aconcágua, na Argentina, o Kilimanjaro, na África, e esteve por 10 vezes no campo base do Everest.
Avalanche assustadora
Em entrevista à RFI, o guia contou que já havia passado por uma avalanche, mas que o que viveu no Nepal no dia 25 de abril foi inédito. "Eu já havia vivenciado uma série de situações difíceis na montanha, mas sentir o chão tremer, sair correndo e escutar a avalanche chegando foi o que mais vivi de assustador até hoje", declarou.
No momento da avalanche, na qual Santalena perdeu colegas sherpas, estava na companhia do amigo Sartor. "Foi o dia do meu renascimento. Eu nasci de novo junto ao meu amigo. Vivemos momentos difíceis, mas a ideia agora é vivermos melhores momentos", conta.
Projeto voluntário
Depois do susto, Santalena e Sartor, que deveriam retornar ao Brasil no final de maio, resolveram ficar no Nepal e colaborar, como voluntários, prestando assistência às vítimas. "Esperamos ficar aqui mais dez dias, por conta própria, em torno deste projeto", diz.
Ele conta que durante o terremoto, estava com uma família de Israel que têm filhos entre 9 e 11 anos. A preocupação maior durante o tremor era proteger as crianças. E eles se sentiram tão seguros que continuam no mesmo grupo de Santalena e resolveram contribuir com o projeto fazendo uma doação de US$ 500. "Estamos tentando transformar o que vivemos de ruim em algo de produtivo para essa população".
Situação mais calma
O guia, que estava em um alojamento de um sherpa quando concedeu a entrevista à RFI, conta que a situação é mais calma na montanha neste momento. Os corpos das vítimas e os feridos já foram levados a Katmandu de helicóptero.
O grupo de voluntários do qual faz parte está descendo lentamente a montanha, passando por vilarejos, visitando residências e ajudando quem precisa de assistência. "O objetivo agora é ajudá-los e retribuir o mínimo do que esse povo sempre nos ofereceu", diz.
Sem contato
O grupo de brasileiros que Santalena estava guiando já voltou para o país. O paulista indica que em nenhum momento ninguém foi contatato pelo Itamaraty ou pela embaixada brasileira na capital nepalesa. "Nossos clientes tentaram ir até a embaixada em Katmandu, mas a única resposta que receberam era que eles não trabalhavam no fim de semana."
Santalena também diz que não conhece nenhum brasileiro que foi auxiliado pelo Itamaraty ou diplomatas em Katmandu. "Contornamos todos os obstáculos por conta própria sem nenhuma ajuda do governo brasileiro. As únicas pessoas que nos procuraram são da imprensa".
Ouça a reportagem do guia brasileiro no Nepal
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