Gregos se revoltam contra comentários de Lagarde sobre o país
As últimas declarações sobre a Grécia da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, geraram críticas de dirigentes europeus e de muitos usuários da internet. Ela disse que os gregos "tentam não pagar impostos em todo momento" e declarou-se menos preocupada com o destino de Atenas “do que pelo das crianças da África”.
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Em declarações publicadas no sábado no jornal britânico The Guardian, a diretora-gerente do FMI afirmou que os gregos devem "começar a se ajudar" pagando seus tributos. Ao ser interrogada sobre as dificuldades do povo grego, Lagarde respondeu: "Em relação aos gregos, também penso nas pessoas que em todo momento buscam não pagar impostos". A dirigente assegurou que o FMI não tem a intenção de flexibilizar os termos do plano de austeridade imposto à Grécia, em troca de um multimilionário plano de resgate.
As declarações suscitaram mais de 8,5 mil comentários na página de Lagarde no Facebook, o que levou a diretora do FMI a afirmar que "os mais privilegiados" também deveriam participar dos esforços "equitativos", que, segundo ela, os gregos devem realizar para sair da crise, "em particular pagando seus impostos".
"Pouco importa o que você disser agora, depois de tantas críticas. Sabe o dano que causou ao povo grego?", perguntou Thanasis Athanasopulos. "Não somos preguiçosos e tampouco somos mendigos", acrescentou.
Na França, a porta-voz do governo socialista francês, Najat Vallaud-Belkacem, classificou de "um pouco caricatural e esquemática" a visão de Lagarde, enquanto o líder da Frente de Esquerda, Jean-Luc Melenchon, afirmou que os funcionários não têm "nenhuma forma de não pagar impostos", já que eles são deduzidos quando recebem seu salário. A diretora-gerente do FMI é francesa e foi ministra da Economia do ex-presidente Nicolas Sarkozy.
Líderes de esquerda gregos também criticaram os comentários de Lagarde. "Ninguém pode humilhar o povo grego durante a crise e me dirijo em particular à senhora Lagarde (...) que insultou os gregos", declarou o líder do partido socialista (Pasok), Evangelos Venizelos, que apoiou a política de austeridade em seu país.
O líder do grupo de esquerda radical Syriza, Alexis Tsipras, considerou que "os trabalhadores gregos pagam seus impostos", que são "insuportáveis". "Em relação à evasão fiscal, (Lagarde) terá que se dirigir ao Pasok e ao Nova Democracia para que lhe expliquem por que não exigem nada do grande capital e perseguem o trabalhador de base há dois anos", acrescentou.
Segundo várias pesquisas publicadas neste domingo, o Nova Democracia obteria o primeiro lugar nas eleições previstas para o dia 17 de junho, com uma leve vantagem em relação ao Syriza, oposto à atual política de austeridade, mas não conseguiria obter maioria absoluta.
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