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EUA-China/Comércio

John Kerry termina visita à China com mais discordâncias do que acordos

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, viajou a Pequim para tratar de questões comerciais, mas o assunto de seu primeiro encontro com a imprensa foi pirataria virtual. Isso porque na edição desta quinta-feira (10), o New York Times publicou uma matéria denunciando que ciberpiratas chineses invadiram um banco de dados americano, que conteria informações pessoais de todos os funcionários federais do país.

Secretário de Estado John Kerry (e) com o primeiro-ministro da China, Li Keqiang.
Secretário de Estado John Kerry (e) com o primeiro-ministro da China, Li Keqiang. REUTERS/Ng Han Guan/Pool
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Durante essa invasão, que aconteceu em março, os piratas tiveram acesso aos dossiês de dezenas de milhares de candidatos a obter credenciais de segurança do governo dos Estados Unidos. Esses arquivos conteriam dados pessoais como contatos internacionais e até informações como o consumo de drogas, por exemplo.

Não se sabe a porcentagem destes arquivos que foi acessada antes de a invasão ser neutralizada nem se o governo chinês estaria envolvido na operação. Computadores da administração americana são alvos de tentativas de invasão quase diariamente, mas esta é a primeira vez que os piratas encontram uma brecha.

Hipocrisia

As revelações do jornal adicionaram um ingrediente às relações já tensas entre as duas potências nesta área. Em maio, o governo Xi Jinping se enfureceu quando Washington indiciou cinco oficiais militares chineses por hackear sites de empresas americanas.

Pequim se diz também vítima de pirataria e acusa Washington de hipocrisia, dada a extensão da espionagem praticada pelo serviço de inteligência norte-americano. No ano passado, revelações do ex-técnico em informática da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden causaram um escândalo que abalou as relações internacionais. A China estava entre os Estados espionados pela CIA.

"Episódios de pirataria informática prejudicaram nossa economia e ameaçaram a competitividade de nossa nação", afirmou John Kerry na sessão de encerramento do encontro, ao lado de dirigentes chineses. De acordo com ele, "a perda de propriedade intelectual provocada pela ciberpirataria é uma ducha de água fria na inovação e nos investimentos". O evento foi anunciado como entrevista coletiva, mas as perguntas não foram permitidas e os responsáveis se limitaram a ler declarações.

O conselheiro de Estado chinês, Yang Jiechi, afirmou que a pirataria virtual é "uma ameaça e um desafio comum a todos os países". Para ele, o "ciberespaço não pode se tornar uma ferramenta para prejudicar os interesses de outros países". Apesar da pressão norte-americana, Pequim não aceitou retomar um grupo de trabalho sobre segurança virtual, suspenso desde a condenação dos militares chineses.

Direitos humanos e tensão territorial

Depois da pseudo-coletiva, Kerry disse aos jornalistas que também pressionou Pequim na questão dos direitos humanos, expressando sua "preocupação com recentes detenções e prisões" de jornalistas e advogados pelas autoridades chinesas.

Os dois países discordaram também sobre como resolver as tensões nos mares do sul e do leste da China. Os Estados Unidos se preocupam com o risco de a reivindicação territorial dos chineses fazer estourar um conflito. "Acreditamos que essa reivindicação deve ser comedida e feita por vias diplomáticas", afirmou Kerry.

Mas Yang Jiechi foi categórico: "A China está comprometida em sustentar sua soberania territorial e de seus direitos marítimos. Exigimos que os EUA adotem uma posição justa e objetiva e honrem seu compromisso com a imparcialidade".

Pontos pacíficos

No entanto, as duas potências concordaram em alguns assuntos, como "a necessidade e a urgência de conseguir uma península coreana estável, próspera e livre de armas nucleares". Kerry afirmou que eles discutiram "formas específicas" de assegurar que a Coreia do Norte arque com suas obrigações, mas não forneceu detalhes.

Outro ponto pacífico foram os esforços para frear as mudanças climáticas. Os Estados Unidos também elogiaram os movimentos da China para abrir sua economia. De acordo com o secretário americano do Tesouro, Jacob Lew, "hoje, a China se comprometeu a reduzir a intervenção no mercado na medida do possível e se prepara para aumentar a transparência no comércio internacional".

Livre flutuação do yuan

"Esse compromisso ajudará a acelerar o movimento chinês em direção a um câmbio determinado pelo mercado", afirmou. Para ele, isso reflete "o papel e a responsabilidade crescentes da China na promoção de um crescimento forte e equilibrado da economia global".

Os Estados Unidos não taxam a China como um manipulador de moeda, mas denunciam frequentemente que o yuan é desvalorizado artificialmente, o que dá uma vantagem injusta aos produtos chineses. No início deste mês, a Organização Mundial do Comércio (OMC) pediu transparência à China. De acordo com a OMC, a China - que tem atualmente o maior volume de negócios entre os países membros - não conseguiu arcar com os compromissos de transparência que assumiu quando entrou para a organização.
 

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