FMI lamenta suicídio de aposentado grego endividado
O porta-voz do Fundo Monetário Internacional, Gerry Rice, declarou nesta quinta-feira que a instituição "ficou profundamente triste" com a notícia do suicídio de um aposentado em uma rua de Atenas. O homem estava desesperado com sua situação financeira.Milhares de pessoas se reuniram na Praça Syntagma para homenagear o mártir da crise na Grécia.
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Na quarta-feira, na Praça Syntagma, a alguns metros da sede do Parlamento grego, um aposentado de 77 anos matou-se com um tiro na cabeça diante de uma multidão de transeuntes. Em um dos seus bolsos do idoso foi encontrada uma carta em que ele acusa o governo de tê-lo privado do dinheiro necessário para a sua sobrevivência. O fato provocou uma verdadeira comoção nacional.
O porta-voz do FMI se absteve de fazer qualquer comentário sobre o acontecido, limitando-se a lamentar a morte do homem.
O primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, também reagiu, emitindo um comunicado: "É trágico que um dos nossos cidadãos tenha se matado. Nesses momentos difíceis para nossa sociedade, governo e cidadãos, devemos apoiar as pessoas que estão no desespero", afirmou o premiê.
Indignação
Nesta quinta-feira, o gramado da emblemática Praça Syntagma, palco de manifestações no país desde a crise de 2010, está coberto de flores, velas e mensagens colocadas por gregos vindos de diversas regiões, revoltados com o ocorrido.
Um grande cipreste transformou-se em local de peregrinação e bilhetes e bandeiras gregas cobrem o seu tronco. As palavras das mensagens refletem a revolta e o sofrimento da população: "Isto não é um suicídio, é um crime do Estado"; "Assassinado pela ditadura dos credores"; "Nada de eleições, revolução!"; "Povo, acorde, pegue as armas!"
Um grande número de pessoas ainda se encontra no local. Na noite de quarta-feira, cerca de mil pessoas marcaram encontro por redes sociais na praça para realizar uma vigília para o idoso. A homenagem terminou com incidentes entre manifestantes e polícia.
Diversos estudos vêm apontado um aumento dos casos de depressão e suicídios na Grécia, nos últimos meses. A crise econômica e social causou a explosão do desemprego e a queda dos salários dos trabalhadores e aposentados, empobrecendo uma grande camada da população.
Mártires
O farmacêutico de 77 anos deixou uma carta encontrada em seu bolso depois do suicídio. Ele acusa o governo de ter tirado o seu dinheiro e compara o executivo aos nazistas da ocupação de 1941. "Não encontro outra solução (senão o suicídio) para acabar dignamente, antes de ser obrigado a remexer em lixeiras para me alimentar", escreveu o homem, que teve sua aposentadoria diminuída com o plano de austeridade imposto ao país.
O gesto desesperado do idoso - que tornou-se o mártir da crise econômica da Grécia - relembra a morte do vendedor ambulante tunisiano Mohamed Bouazizi, em janeiro de 2011, que ateou fogo às próprias roupas para protestar. Sua morte desencadeou a revolução que causou a queda do presidente Zine el-Abidine e se alastrou pelos países árabes sob o nome de Primavera Árabe.
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