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Ucrânia/Invasão russa

Dois morrem em ação de Kiev para retomar prédios invadidos

O governo ucraniano respondeu neste domingo (13) às insurreições armadas de militantes pró-russos no leste russófono da Ucrânia. No sábado, homens homens em uniformes sem insígnias, armados de pistolas fuzis de fabricação russa, tomaram prédios públicos em Slaviansk e Kramatorsk, uma semana depois de ações similares em Donetsk e Luhansk. Neste domingo, a prefeitura de Mariupol foi tomada por separatistas, que substituíram a bandeira da Ucrânia pelas cores russas. 

Armado de um fuzil AK-47, soldado pró-russo monta guarda diante da sede da polícia de Slaviansk
Armado de um fuzil AK-47, soldado pró-russo monta guarda diante da sede da polícia de Slaviansk REUTERS/Gleb Garanich
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No que o ministro do interior da Ucrânia, Arsen Avakov, chamou via Facebook de "operação antiterrorista em Slaviansk", morreram ao menos um agente do SBU, o serviço secreto do Estado ucraniano, e um militante pró-Rússia. Cinco membros do SBU ficaram feridos.

Do outro lado, o número de vítimas é "indeterminado", de acordo com Avakov. Neste momento, as tropas ucranianas estariam se reorganizando. Em entrevista à agência de notícias RIA, o separatista Nikolai Solntsev confirmou o número de um morto e dois feridos pelo lado pró-russo.

Curiosamente, testemunhas não ouviram barulhos de combate em Slaviansk e, na metade do dia, os separatistas continuavam em poder do quartel general da polícia. Helicópteros sobrevoavam a baixa altitude cidade de 100 mil habitantes. Alguns deles, principalmente mulheres, encaravam o frio diante de barricadas próximas aos prédios ocupados, para defender os militantes.

Cossacos do Terek

Por isso, Arsen Avakov acusou os invasores de "se esconder atrás de civis usados como escudos humanos". No sábado, ele denunciou uma "agressão externa" da Rússia, depois de seu reunir com seu conselho de segurança nacional. Algumas testemunhas dizem que parte dos invasores se identifica como "cossacos do Terek", em referência a um rio do Cáucaso russo.

Logo depois da primeira onda de levantes, no dia 6 de abril, os insurgentes pró-russos declararam Donetsk, a maior cidade do leste do país, como uma "república independente", ainda que só controlassem dois prédios. Eles exigem a anexação da região ao vizinho ou, pelo menos, a federalização da Constituição ucraniana, que daria maior poder às regiões. Para Kiev, essas propostas abrem a porta para um "desmembramento" do país. O máximo que o governo interino pró-europeu aceita discutir é uma descentralização.

Moscou nunca reconheceu a autoridade de Kiev depois da queda do presidente pró-russo Viktor Yanukovitch, em fevereiro, depois de uma série de manifestações violentas na capital.

Tensão internacional

As ações deste sábado preocuparam a comunidade internacional, que viu nelas um formato parecido com a tomada da Crimeia, poucos dias antes de o balneário ser anexado à Rússia. Na noite de ontem, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, denunciou o que chamou de ações "orquestradas e sincronizadas" e ameaçou Moscou de novas sanções.

Paris foi na mesma linha: "É claro que seremos obrigados a nos pronunciar a favor de novas sanções em caso de escalada militar", declarou neste domingo Jean-Marie Le Guen, secretário de Estado francês para as Relações com o Parlamento.

"Assistimos a uma campanha de violência organizada pelos separatistas russos, que tentam desestabilizar o Estado soberano da Ucrânia", afirmou em comunicado o secretário geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Anders Fogh Rasmussen. "Qualquer nova ingerência militar russa", escreveu, em referência à anexação da Crimeia, "só fará crescer o isolamento da Rússia".

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, pediu novamente que Moscou respeite a "integridade territorial da Ucrânia". Dizendo-se "profundamente preocupado" com o risco de uma escalada de violência, o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que os dois lados tenham a maior cautela possível e procurem dialogar para diminuir a tensão.

Solução política

De fato, uma conversa entre Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e União Europeia está marcada para a próxima quinta-feira, em Genebra. Catherine Ashton declarou ter esperança de que este encontro entre ela, John Kerry e os chanceleres russo, Serguei Lavrov, e ucraniano, Andrii Dectchitsa, permitirá estabilizar a situação. Mas Moscou já se disse contrário ao "formato" da cúpula que, em sua opinião, deveria contar com representantes dos separatistas para que eles possam expor seus "interesses legítimos".

Ontem, Lavrov isentou o Kremlin de qualquer responsabilidade nos ataques e disse que Moscou não tem interesse em incorporar novos territórios ucranianos. Mas Kiev e seus aliados europeus pensam exatamente o contrário, principalmente por conta dos 40 mil soldados russos que estão de prontidão na fronteira entre os dois países.

Lavrov ainda classificou de "inadmissível" o fato de Kiev recorrer à força para retomar os prédios ocupados por manifestantes pró-russos. Para ele, o governo interino deveria "considerar as exigências legítimas" dos russófonos.

Corte de gás

Para piorar a mais grave crise entre o leste e o oeste desde o fim da Guerra Fria, o presidente russo Vladimir Putin afirmou nesta semana que o conflito na Ucrânia pode ameaçar o abastecimento de gás da Europa. Cerca de 13% do gás consumido pela União Europeia transita de fato pela Ucrânia, que tem uma dívida de bilhões de dórales com Moscou, justamente por conta do gás.

Putin ameaçou cortar o suprimento da Ucrânia, caso a dívida não seja paga. Nesta segunda-feira, os ministros das Relações Exteriores da União Europeia se reúnem em Luxemburgo para avaliar as consequências da ameaça de Putin.
 

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