Acesso ao principal conteúdo
França/Política

Sarkozy faz reforma ministerial para reforçar política externa

Após semanas de desgaste provocado pelos erros da diplomacia francesa nas crises da Tunísia, do Egito e da Líbia, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou uma reforma ministerial. A chanceler Michelle Alliot Marie deixou o governo, enfraquecida pelas relações controversas com o regime do ex-ditador tunisiano Ben Ali. Ela foi substituída por Alain Juppé, que ocupava até então a pasta da Defesa.

Michèle Alliot Marie, na foto ao lado de Sarkozy, deixa o governo substituída por Alain Juppé.
Michèle Alliot Marie, na foto ao lado de Sarkozy, deixa o governo substituída por Alain Juppé. REUTERS/Philippe
Publicidade

Como era esperado há semanas, a ministra das Relações Exteriores Michèle Alliot Marie pediu demissão neste domingo e foi substituída no cargo pelo número 2 do governo francês, Alain Juppé. Conhecida como a dama de ferro francesa, esta fiel aliada do ex-presidente Jacques Chirac integrou todos os governos de direita desde 2002, mas perdeu a credibilidade diante da opinião pública depois de passar as férias no final do ano passado na Tunísia, aproveitando de mordomias do regime Ben Ali, quando a revolta popular pela queda do ditador já havia começado naquele país. O apagado posicionamento da França durante as crises políticas das últimas semanas no norte da África, uma zona de tradicional influência da França, obrigou o presidente Sarkozy a promover uma reformulação completa na área de política exterior.

Três meses depois de fazer um retorno triunfal ao governo, Alain Juppé chega à pasta de Relações Exteriores após negociar com Sarkozy o afastamento dos assessores palacianos do presidente nas decisões de política externa. Gérard Longuet, presidente da bancada do partido presidencial UMP no Senado, assume o Ministério da Defesa. Claude Guéant, que ocupava o cargo de secretário-geral do Palácio do Eliseu, foi nomeado ministro do Interior no lugar de Brice Hortefeux, amigo pessoal de Sarkozy, que deixa o governo para preparar a campanha presidencial de 2012.

Em entrevista à RFI, o embaixador e escritor Jean Christophe Rufin disse que essa reforma é o resultado de uma crise aberta no corpo diplomático desde a chegada de Sarkozy ao poder. O presidente vinha guiando sua política externa com base na avaliação de assessores que ficavam no Palácio do Eliseu, como o conselheiro diplomático Jean-David Levitte e o secretário-geral da presidência, Claude Guéant. Essa atitude de Sarkozy, de se afastar do circuito diplomático tradicional, criou uma grande insatisfação no Quai D'Orsay, como é conhecido o Itamaraty francês. De acordo com Rufin, a chegada de Juppé às Relações Exteriores deve inverter essa tendência.

Sarkozy anunciou a reforma ministerial em um breve discurso na televisão. Em uma intervenção de menos de sete minutos, o presidente francês falou da importância de acompanhar as mudanças que ocorrem atualmente no mundo árabe. Segundo ele, as revoluções democráticas que ocorrem na Tunísia, no Egito e na Líbia são históricas, mas precisam ser monitoradas, senão "novas ditaduras, ainda piores que as precedentes, podem emergir". Sarkozy também justificou as relações com os líderes recentemente derrubados do poder, qualificados de "importantes" na luta contra o terrorismo.

As palavras do presidente, no entanto, foram apenas um preâmbulo para a preocupação principal dos europeus neste momento. O presidente francês fez um alerta contra o aumento do fluxo migratório, decorrente da crise política no mundo árabe, que "pode se tornar incontrolável", e também citou a ameaça terrorista que paira sobre o continente.

A Europa, diz Sarkozy, tem o dever de agir, e por isso a França pediu que o Conselho Europeu se reúna para adotar uma ação comum diante da crise na Líbia. A fuga em massa dos líbios, diante do temor da guerra civil, é uma das principais consequências para a Europa dos movimentos de revolta que tomaram conta desses países.

O presidente também defendeu a criação da União Mediterrânea em 2008, que, segundo ele, deve funcionar como um espaço de discussão para o futuro das novas democracias e deve ser fortalecida. A iniciativa foi muito criticada, porque estreitava relações com os mesmos ditadores que foram expulsos do poder pelo povo. "Sarkozy fez muitas concessões a Mubarak ou Kadafi, o que foi muito ruim para a imagem da França na região", lembrou o escritor e diplomata Jean Christophe Rufin.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Partilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.