Franceses vão às ruas protestar contra pacto fiscal europeu
Milhares de franceses manifestaram hoje nas ruas de Paris contra a austeridade econômica, a dois dias de o Parlamento do país começar a votar o pacto fiscal europeu. Os principais sindicatos e organizações de trabalhadores haviam convocado o protesto, além do partido de extrema esquerda Frente de Esquerda. Esta foi a primeira grande exibição de insatisfação pública contra o presidente da França, François Hollande, desde sua eleição, em maio.
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A multidão – estimada em 80 mil pessoas pelos organizadores, enquanto a polícia não divulgou números – pedia “resistência” e “uma Europa solidária”. Os manifestantes desejam que os deputados franceses não aprovem o pacto, que estabelece limites para o endividamento dos Estados europeus.
“Esta manifestação significa a entrada em movimento do povo francês ao lado dos outros povos que protestam contra a austeridade”, declarou Jean-Luc Mélenchon, um dos presidentes da Frente de Esquerda. Mélanchon, que foi candidato à presidência da França nas últimas eleições, negou, entretanto, que a manifestação fosse um protesto contra o governo do presidente socialista François Hollande. “É uma manifestação de oposição às políticas de austeridade”, disse.
Na frente do cortejo também estavam o presidente do Partido Comunista Francês (PCF), Pierre Laurent, e também dois ex-candidatos do Novo Partido Anticapitalista (NPA) às eleições presidenciais francesas, Philippe Poutou e Olivier Besancenot. Os dois adotaram um tom mais duro em relação ao governo socialista. "Chegou o momento da rua se manifestar e ser ouvida contra a política do governo; é uma primeira etapa para dizer que a partir de agora haverá uma união permanente de oposição”, disse Besancenot. “É preciso assumir o status de oposição política à esquerda do governo”, defendeu.
"É o ponto de partida. Começa hoje e vai continuar nas próximas semanas", acrescentou Pierre Laurent. Segundo ele, o movimento vai encorajar a esquerda a lutar contra o "mundo das finanças".
Na terça-feira, os deputados franceses vão analisar o pacto orçamentário, que para uma parte da esquerda é a síntese das políticas de austeridade adotadas desde o início da crise econômica. A Assembléia Nacional e o Senado têm até o final de outubro para ratificar o texto, que prevê que, a médio prazo, o déficit público estrutural dos 25 Estados signatários não ultrapasse 0,5% do PIB.
Embora a aprovação seja provável, há incerteza sobre o quão confortável a votação será para o governo: além da extrema esquerda, também os ecologistas e mesmo alguns representantes do Partido Socialista se opõem ao pacto, além do partido de extrema direita (Frente Nacional).
O pacto, assinado pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy em março, conta com o apoio dos conservadores do União por um Movimento Democrático (UMP), principal partido de oposição, dos centristas e da maioria dos socialistas.
Erro de avaliação
O ministro francês do Orçamento, Jérôme Cahuzac, estimou que os partidos políticos e as organizações que convocaram o protesto contra a austeridade e os planos de contenção de economia dos governos cometem um “erro de avaliação”.
"Acho que eles cometem um erro de avaliação que consiste em pensar que a política que nós adotamos enfraquece a França, sendo que justamente essa política é a que reforça a imagem do país no exterior”, disse o ministro, em entrevista à imprensa francesa neste domingo.
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