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Brasil na França

Ex-presidente Lula aparece, mas não fala

De repente, Luís Inácio Lula da Silva estava sentado no plenário da Fundação Jean-Jaurès, ao norte de Paris. Ninguém viu o ex-presidente chegar. Ele ficou por ali, ao lado do diretor do Instituto Lula, Paulo Okamotto. Acenou para alguns figurões do governo brasileiro, como o ministro da Educação, Aloísio Mercadante, e o chanceler Antonio Patriota, que ocupavam as primeiras filas do auditório e escutou pacientemente as falas do presidente francês, François Hollande, e da brasileira, Dilma Rousseff.

Luís Inácio Lula da Silva cumprimenta presidente Dilma durante Fórum do Progresso Social
Luís Inácio Lula da Silva cumprimenta presidente Dilma durante Fórum do Progresso Social REUTERS/Remy de la Mauviniere/Pool
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Os dois falaram sobre medidas para sair da crise da dívida, criticaram os planos de austeridade encampados pela direita europeia, pediram mais solidariedade e responsabilidade na economia, defenderam a criação de um Conselho de Segurança Econômica e Social, aos moldes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Algumas vezes, Lula acenou com a cabeça, concordando com as falas. Tinha o aspecto cansado, sorriu menos do que o habitual.

Como era de se esperar, face aos recentes desdobramentos da Operação Porto Seguro e do último depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público, o ex-presidente não falou com a imprensa. A distância da imprensa não se pode ser atribuída pura e simplesmente ao receio do ex-presidente em abordar temas tão espinhosos - no depoimento, obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, Valério teria dito que Lula autorizou o Mensalão e ainda teria acusado Okamotto de ameaçá-lo de morte. Okamotto negou a acusação e disse que "as tentativas de Valério de reduzir uma pena de 40 anos de cadeia são legítimas".

Talvez Lula, que acaba de chegar da Alemanha e do Qatar, onde palestrou para líderes sindicais e empresários, respectivamente, queira trazer à tona os assuntos que podem definir o futuro da humanidade. A Europa o vê como alguém que tem respostas. Mas as únicas que uma parte dos jornalistas quer ouvir dizem respeito à crônica da política brasileira. Em sua turnê europeia, o ex-presidente tem discutido as principais questões sócio-econômicas do mundo contemporâneo e parece animado quando fala, como fez na Alemanha, que "os magnatas do sistema financeiro, quando ganham, não repartem, mas quando perdem repartem os prejuízos com todos". Ou quando acusa a Europa de ter terceirizado a política.

Talvez por isso, por ver em Lula alguém com mais respostas do que exigem as perguntas, Dilma Rousseff tenha chamado de "lamentável" nesta terça-feira o tratamento da imprensa com relação a seu antecessor. No entanto, o atrito criou uma relação bizarra. Será que uma certa má-vontade de parte da mídia com relação ao ex-presidente justifica o fato de que jornalistas foram trancados na sala de imprensa enquanto as autoridades saíam? Ou o fato de que quem parou - na verdade, só Okamotto - para conversar com os jornalistas foi tirado do meio da roda quase pelo colarinho? Ou de que os jornalistas entraram em fila indiana, depois de passarem pelo detector de metais, e foram "guiados" dentro da Fundação o tempo inteiro? Não. O fato é que a imprensa e o ex-presidente precisam discutir a relação.

Os dois se encontram para um novo "round" no fim da tarde desta quarta-feira, novamente, na Fundação Jean-Jaurès, quando Lula apresenta suas Reflexões para o Futuro e encerra o Fórum do Progresso Social. Mais um encontro que tem tudo para terminar em W.O..

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