Polícia egípcia dispersa protesto de pró-islâmicos com gás lacrimogênio
Nesta sexta-feira, a polícia egípcia entrou novamente em confronto com manifestantes a favor do ex-presidente Mohamed Mursi, deposto no último dia 3 de julho. As forças de ordem usaram bombas de gás lacrimogênio para dispersar a multidão, que respondeu atirando pedras e bloqueando estradas com pneus incendiados. Quase 200 pessoas foram presas.
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Os conflitos aconteceram no bairro de Mohandessin, no Cairo, mas outros protestos foram reprimidos nas cidades de Suez, el-Mahalla e Qena. Um repórter da AFP foi testemunha do uso de gás lacrimogênio pela polícia na capital. Ele também relatou que tiros form ouvidos.
Essas são as primeiras manifestações pró-Mursi que acontecem desde que o presidente interino Adly Mansur promulgou uma lei no último domingo que criminaliza qualquer aglomeração que não tenha sido previamente autorizada pelo ministério do interior.
Na quinta-feira, véspera do dia em que tradicionalmente os islamitas saem às ruas, o ministério emitiu um comunicado afirmando que agiria de maneira "firme e categórica" contra "a organização de qualquer aglomeração, passeata ou manifestação ilegal". A nova lei também obriga organizadores a informar qualquer movimento às autoridades, com três dias úteis de antecedência. O pedido é submetido então à aprovação do ministério do Interior.
Desde que assumiu o poder, o governo interino estabelecido pelo exército reprime com extrema violência a Irmandade Muçulmana, grupo político a que pertence o ex-presidente. Além de matar mais de mil manifestantes, as forças de ordem prenderam quase todos os líderes da confraria - Mursi entre eles. Mas agora, o governo passou também a dirigir a repressão aos movimentos laicos da juventude, que encabeçaram a revolta popular que tirou Hosni Mubarak do poder, no início de 2011.
Prisões
Na última terça-feira, uma manifestação laica foi controlada com jatos de água e gás lacrimogênio. Sessenta pessoas foram presas - entre elas, quinze jovens mulheres, que foram largadas pela polícia em uma rodovia deserta a alguns quilômetros da capital. Na noite de quinta-feira, o governo prendeu em sua residência Alaa Abdel Fattah, um dos principais ativistas do movimento laico pela democracia no Egito. Pelo Twitter, a mulher de Fattah denunciou ter sido agredida pelos policiais durante a ação.
Ahmed Maher, fundador do movimento 6 de abril que encabeçou a revolta de 2011, também é procurado pela polícia por contrariar a polêmica lei adotada no último domingo. Ao longo da semana, uma série de organizações de direitos humanos denunciou o texto. A ONU pediu que sejam estabelecidas sanções contra o Egito.
Além da nova lei, contribuíram para o aumento das tensões em torno das últimas manifestações o fato de que um estudante foi morto pela polícia na quinta-feira na Universidade do Cairo e a condenação de 21 mulheres - entre elas, sete menores -, acusadas de incitar a violência durante manifestações em Alexandria, em outubro. A imagem das moças recebendo seu veredicto dentro de uma jaula nesta quarta-feira aumentou a desconfiaça internacional com o governo interino.
A Anistia Internacional exigiu a libertação "imediata e incondicional" dessas "presas políticas" e denunciou o esforço das autoridades egípcias em punir qualquer contestação. "As pesadas penas de prisão dessas jovens mulheres acontecem depois da adoção de uma lei draconiana sobre as manifestações e da dispersão violenta de militantes no Cairo", declarou Hassiba Hadj Sahraui, vice-diretora da organização para o Oriente Médio e o norte da África.
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