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Prisão na França dá voz a detentos para diminuir tensões

Mudar a marca da batata frita "mole demais", negociar a participação na comunicação interna ou o direito a fazer compras por correspondência. Essas são algumas das conquistas que os detentos da penitenciária de Val-de-Reuil, na França, conseguiram graças a um programa de diálogo com a direção, implantado há quatro anos e que resultou na diminuição das agressões e tensões no estabelecimento. O cotidiano no local é retratado em uma reportagem do jornal Libération, publicada neste sábado.

Penitenciária de Val-de-Reuil fica na Normandia.
Penitenciária de Val-de-Reuil fica na Normandia. Ministério da Justiça da França
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Nos corredores da prisão, circulam condenados a dois anos de reclusão ou à prisão perpétua. Mas todos têm direito à palavra. As reuniões têm sempre um tema, como o cardápio servido no refeitório, as atividades de recreação ou os produtos autorizados nas celas. Os encontros, relata o Libération, acontecem com a presença de um representante da direção prisional, três representantes da divisão 1 – presos com condenações até 7 anos – e três da divisão 2 – onde estão os condenados a penas superiores.

O estabelecimento é um dos raros da França a oferecer essa abertura, julgada “polêmica”, principalmente pelos sindicatos. Eles afirmam que “quanto mais se ouve o detento, menos ele respeita os agentes”.

Muriel Guégan, diretora da prisão, discorda. Ela constata “menos agressividade e violência”, e acha que as reuniões, chamadas de “conselhos de vida social”, “pacificam o clima”. Guégan afirma que os atos de violência contra agentes diminuíram desde a implantação do sistema: em 2009, foram 16 agressões, contra apenas três no ano passado.

Pena é a privação da liberdade, não da palavra

Sylviane Loret, funcionária há 25 anos do local e uma das organizadoras das reuniões, observa que “as quantidades insuficientes de comida servida ou a falta de uma sobremesa podem fazer o estabelecimento explodir”. Ela defende o diálogo com os presos como maneira de identificar onde podem estar as insatisfações que, mais tarde, poderiam gerar uma rebelião.

“A única pena que os detentos precisam cumprir é a privação da liberdade e a obrigação de cumprir regras. Eles têm direito à palavra”, argumenta Loret, ao jornal francês.

Desde a implantação do sistema, os detentos conseguiram mudar pratos servidos e até ser protagonistas de novas receitas, preparadas pelos mais chegados às panelas. Outros agora participam da produção, filmagem e edição da programação de televisão interna, enquanto todos podem encomendar produtos em um catálogo de vendas por correspondência.

 

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