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Eleições vão mostrar se estratégia antimuçulmana de Sarkozy dará certo

A vitória anunciada da oposição de direita no segundo turno das eleições departamentais é o assunto em destaque na imprensa francesa deste sábado (28). Os jornais analisam o impacto da previsível derrota para o Partido Socialista (PS) e os riscos para a França com a expansão da extrema-direita, que sairá das urnas fortalecida.

O presidente da UMP, Nicolas Sarkozy, em um comício de campanha, em Perpignan, no dia 26 de março.
O presidente da UMP, Nicolas Sarkozy, em um comício de campanha, em Perpignan, no dia 26 de março. AFP PHOTO / RAYMOND ROIG
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Le Figaro afirma que a direita busca um sucesso estrondoso no segundo turno das eleições departamentais neste domingo. Os resultados das urnas, que segundo pesquisas apontam uma vitória clara do partido UMP e seus aliados, deverão mudar o panorama político francês.

A grande vítima é o Partido Socialista do presidente François Hollande, afirma o diário conservador. "Convencida da vitória, a UMP de Nicolas Sarkozy pretende infligir uma derrota histórica ao PS e à esquerda", escreve Le Figaro. Segundo o jornal, os mais otimistas estimam que o principal partido de oposição ao governo vai vencer em 80 departamentos, de um total de 101.

A esquerda, que dirige atualmente 61 departamentos, deverá conservar pouco mais de 20 a partir de segunda-feira, estima Le Figaro. Para evitar um fracasso retumbante, o primeiro-ministro Manuel Valls pede a mobilização dos eleitores socialistas, mas também dos ecologistas e da esquerda radical.

Segundo Le Figaro, a Frente Nacional, partido de extrema-direita, vai seguir sua implantação local. Antes de esperar o resultado final, o editorial do Le Figaro lembra que o Partido Socialista vai perder sua quarta eleição desde que Hollande chegou à presidência, em 2012. Além disso, o PS foi ultrapassado pela extrema-direita e sairá das urnas como o terceiro partido da França, atrás da UMP e da Frente Nacional.

Campanha antimuçulmanos

Libération analisa em sua manchete a estratégia do partido conservador UMP. Nas últimas semanas, o presidente da legenda, Nicolas Sarkozy, endureceu o tom das críticas e escolheu a comunidade muçulmana como alvo de ataques para seduzir os eleitores da extrema-direita.

Em editorial, Libération critica ferozmente a proposta do partido conservador de proibir as cantinas das escolas públicas oferecerem uma alternativa para a carne de porco, proibida para os fiéis seguidores do Islã.

"Essa paranoia antimuçulmana de uma parte da opinião pública se tornou patológica", afirma o jornal. Nesta reta final de campanha, Sarkozy não hesitou em atacar os muçulmanos, na esperança de atrair os eleitores da Frente Nacional, observa o jornal.

Nesta eleição, ele não quer apenas impor uma derrota bem previsível a uma esquerda dividida e criticada. Ele pretende também mostrar que é capaz de conquistar eleitores que se sentem atraídos pela extrema-direita. O resultado das urnas será determinante para confirmar se essa estratégia dará frutos para o partido e para Sarkozy, sugere Libération. O ex-presidente busca, através das eleições, dar legitimidade à sua ambição de voltar ao Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa.

Ameaça da extrema-direita

Em seu editorial, Le Monde lembra que no primeiro turno das eleições departamentais, a Frente Nacional teve 25% dos votos. Isso, dez meses depois de o partido de extrema-direita ter vencido as eleições europeias. O vespertino alerta que a sociedade francesa reagiu a esses resultados como uma forma de tensão e indiferença.

O alívio com a vitória do conservador UMP no primeiro turno e não da Frente Nacional como indicavam as pesquisas é um erro, aponta o jornal.

Le Monde considera a situação atual muito mais grave se comparada à de 2002, quando o líder da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, derrotou os socialistas nas eleições presidenciais e disputou o segundo turno contra Jacques Chirac.

Na época, lembra o diário, a sociedade francesa se uniu para eleger o conservador Chirac e rejeitar o discurso da xenofobia, de uma França antieuropeia e anti-imigração. Agora, constata o diário, os republicanos da direita e da esquerda assistem ao crescimento da Frente Nacional assustados, entre passividade e pânico.

A estratégia da extrema-direita é clara, analisa o jornal: estar no centro do debate e reforçar a imagem de um partido que faz parte do cenário político como qualquer outro. O que é grave, insiste Le Monde, é que a Frente Nacional ameaça os fundamentos da sociedade e da economia da França.

Para o Partido Socialista, não há outra alternativa senão aprofundar as reformas para tornar o país mais competitivo e modernizar a economia. Caso contrário, as portas do Eliseu estarão abertas à extrema-direita, alerta Le Monde.

 

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