Protestos crescem em Hong Kong com temor de repressão policial
Hong Kong entra no terceiro dia de manifestações consecutivas nesta terça-feira (30), em protesto pela decisão de Pequim de limitar e selecionar os candidatos para participar das eleições para o governo local em 2017. O movimento se estende para outras ruas da cidade onde são erguidas barricadas. Os manifestantes se preparam para uma eventual repressão policial às vésperas de uma festa nacional na China.
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Luiza Duarte, correspondente da RFI, em Hong Kong,
As ruas de Hong Kong amanheceram calmas, muitas delas ainda fechadas para o trânsito. Dezenas de milhares de manifestantes, a maior parte deles jovens, dormiram mais uma noite acampados nas principais vias de Hong Kong e os protestos continuam. A ocupação, que antes estava concentrada no distrito financeiro, se estendeu para a península de Kowloon e os bairros de Causeway Bay e Wanchai.
Muito criticado pelos manifestantes que pedem sua demissão, o chefe do executivo local, Leung Chun-ying, deu indícios de que não vai renunciar ao cargo e pediu o fim das manifestações.
Na segunda-feira, a polícia antichoque foi retirada e o ambiente nesta terça-feira é pacífico. Por toda a parte é possível encontrar cartazes escritos em diversas línguas pedindo uma democracia real e uma resposta para a reivindicação popular de poder escolher diretamente seu próximo líder.
A Federação dos Estudantes de Hong Kong e o movimento civil Occupy Central estão à frente dos protestos, que atraem cada vez mais apoio popular. Quem não pode faltar ao trabalho tenta apoiar a causa trazendo comida e água para os que vão passar a noite em claro pedindo democracia.
Vários manifestantes disseram temer uma nova repressão policial na véspera de uma importante festa nacional. Na quarta-feira, uma manifestação ainda maior é esperada, já que o 1° de outubro marca o aniversário da criação da República Popular da China e é feriado também em Hong Kong.
Reforma eleitoral contestada
Em junho, um referendo extra-oficial mobilizou 800 mil pessoas, o equivalente a um quinto do eleitorado local, e mostrou o desejo dos hongkongueses de implantar uma reforma eleitoral, para permitir o voto direto na escolha do chefe do executivo, nas próximas eleições de 2017.
No dia 1° de julho, data que marcou o 17° aniversário do retorno da ex-colônia britânica ao domínio chinês, mais de meio milhão de pessoas foram às ruas para pedir democracia e autonomia. Os protestos foram retomados no final do último mês, após o anúncio de que apenas candidatos pré-selecionados pelo governo chinês poderiam concorrer ao cargo máximo do governo de Hong Kong.
Vale lembrar, que a região desde 1997 funciona sob o modelo de um estado, dois sistemas. Diferentemente da China continental, a liberdade de imprensa e o direito de manifestar são assegurados.
"Revolução guarda-chuva"
O movimento vem sendo chamado de “Revolução do guarda-chuva”, acessório usado pelos manifestantes para se protegerem do spray de pimenta lançado pelas autoridades sob a multidão pacífica neste domingo. Nesta data, a polícia antichoque usou gás lacrimogênio para tentar dispersar o protesto e dezenas de pessoas foram presas.
A juventude de Hong Kong, usuária ativa das redes social e com amplo acesso as informações que circulam online, tem dado uma mensagem clara que não vai tolerar distorções e censuras veiculadas pela mídia estatal chinesa. Imagens e depoimentos dos protestos invadem a rede em tempo real.
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