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Colonização

Mia Couto defende “construção conjunta” de reparações coloniais

“Não tem que haver culpa das gerações de hoje sobre coisas que foram feitas num contexto de história completamente diferente.” As palavras são do escritor moçambicano Mia Couto, questionado pela agência Lusa, sobre um eventual processo de reparação do período colonial.

Mia Couto, escritor moçambicano.
Mia Couto, escritor moçambicano. FRANCOIS GUILLOT / AFP
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O escritor defendeu que a dívida dos países africanos pode ser uma das vertentes num eventual processo de reparação do período colonial, mas ressalva que o processo não deve ser feito como forma de “culpabilização”.

Para o escritor, “essa reparação tem sentido na medida em que possa ser discutida, não na base de um sentimento qualquer de culpa histórica, mas na base daquilo que os países africanos consideram ser digno e legítimo construir como uma ponte, mas feita no presente.”

Na semana passada, antecedendo as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, reconheceu a responsabilidade de Portugal por crimes cometidos durante a era colonial, sugerindo o pagamento de reparações pelos erros do passado.

Mia Couto diz não gostar do termo “reparação”, salientando a vertente de “construção de qualquer coisa” em conjunto”.

Não tem que haver culpa das gerações de hoje sobre coisas que foram feitas num contexto de história completamente diferente.

Provavelmente, as declarações do presidente Marcelo [Rebelo de Sousa] foram empoladas porque hoje tudo se aproveita do ponto de vista de polarizar o debate. Ele próprio [Marcelo Rebelo de Sousa] teve a oportunidade de explicar o que é que se pretendia dizer com isso e, por exemplo, trabalhar no perdão da dívida actual. Sim, isso é uma coisa actual. 

Essa reparação tem sentido na medida em que possa ser discutida, não na base de um sentimento qualquer de culpa histórica, mas na base daquilo que os países africanos - o Brasil pode ter a sua própria postura - consideram ser digno e legítimo construir como uma ponte, mas feita no presente. Tenho defendido a ideia de se criar, por exemplo, um museu da escravatura para ser um exemplo de alguma coisa que fosse construída com a participação de todos. 

A história não é tão simples assim, tão perfeita, a preto e branco, também do lado do africano houve cumplicidades, houve mãos internas que participaram e, portanto os historiadores moçambicanos, angolanos, cabo verdianos, são-tomenses e guineenses têm coisas para dizer sobre isso. Não gosto do termo reparação, acho o termo mais no sentido de construção de qualquer coisa.

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