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Brasil/Caetano Veloso

Documentário sobre prisão de Caetano Veloso, estreia em "off" na Mostra de Veneza

Documentário "Narciso em férias" sobre prisão de Caetano Veloso em 1968 durante a ditadura no Brasil, estreou em "off" a 7 de Setembro no Festival Internacional de Cinema de Veneza

"Narciso em férias", documentário onde @Caetano Veloso revisita o período em que foi preso no Brasil durante a ditadura militar.
"Narciso em férias", documentário onde @Caetano Veloso revisita o período em que foi preso no Brasil durante a ditadura militar. © Divulgação
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O filme "Narciso em Férias" teve sua estreia internacional  nesta segunda-feira, 7 de Setembro, no 77° Festival Internacional de Cinema de Veneza, na Itália, fora da competição oficial.

O documentário conta o período que Caetano passou na prisão em 1968, durante a ditadura militar, quando ele e Gilberto Gil foram retirados de suas casas em São Paulo por agentes à paisana, duas semanas depois de decretado o Ato Institucional número 5, e foram levados para um quartel no Rio de Janeiro.

Produzido por Paula Lavigne e realizado por Renato Terra e Ricardo Calil, o filme é baseado no capítulo homónimo "Narciso em Férias", do livro  "Verdade Tropical" que Caetano Veloso escreveu na década de 1990.

Caetano Veloso, conversou com a RFI por videoconferência, dado que não pode viajar a Itália, devido à pandemia da Covid-19.  

Caetano lembra que chegou a chorar nalguns momentos da gravação do filme: "foi quando eu me lembrei de um sargento, que me ajudou a ter contacto directo com Dedé, que era minha mulher. Depois ele foi punido porque os superiores descobriram e eu soube. Não gosto nem de falar desta lembrança. A gente teve que parar a gravação. Mas é preciso ter coragem de enfrentar o tema.” disse.

Caetano afirmou que não foi torturado fisicamente durante os 54 dias que permaneceu encarcerado.

Nós não sofremos tortura, mas nesta prisão onde havia outras pessoas. Em diversas noites nós ouvimos gritos lancinantes de tortura. Pessoas naquele mesmo lugar onde estávamos estavam sendo torturadas, apanhavam. Então gritavam 'Traz a maca, traz a maca' . Não sabíamos se a pessoa havia morrido ou se estava morrendo. Tudo acontecia à noite, no escuro, noutro lugar do quartel, mas perto de nós. Eu ouvia e ficava angustiado. Até hoje eles torturam criminosos comuns, talvez fossem criminosos comuns. Mas talvez fossem presos políticos. A gente ouvia.” recordou.

Caetano Veloso contou que ainda se sente atormentado pelo que sofreu durante a detenção e também com a actual situação política no Brasil: “...Nós temos ouvido ultimamente no Brasil, por causa de um crescimento e da implantação de um governo de direita, um governo reacionário, elogios ao período da ditadura militar por parte das autoridades, do presidente da República e das pessoas que o apoiam”.

O cantor e compositor descartou que com o governo de Jair Bolsonaro possa haver o retorno a uma ditadura militar como aconteceu de 1964 à 1985 no Brasil, mas ressaltou que há uma série de actos, que minam os princípios democráticos.

Breve extracto da entrevista de Gina Marques, RFI Brasil.

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