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Festival de Avignon

O teatro perde espaço para a performance no Festival de Avignon

A dramaturgia clássica, que tanto consagrou grandes diretores teatrais do mundo inteiro nos palcos do Festival de Avignon, cede lugar esse ano para espetáculos que dão destaque à performance, à dança contemporânea e ao trabalho de corpo em geral. A programação desta sexagésima-quarta edição do festival desperta mais uma vez muita polêmica, a começar pelo espetáculo de abertura « Papperlapapp » ,do suiço Cristoph Marthaler, uma crítica feroz à Igreja católica encenada no suntuoso Palácio dos Papas.

A peça Papperlapapp no pátio de honra do Palácio dos Papas em Avignon é uma crítica feroz contra a religião católica.
A peça Papperlapapp no pátio de honra do Palácio dos Papas em Avignon é uma crítica feroz contra a religião católica. © Christophe Raynaud de Lage
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Máquinas de lavar e geladeiras com coca-cola, misturadas com túmulos medievais, é o cenário que surpreende o público que assiste a peça « Papperlappap ». A proposta do diretor suiço Cristoph Marthaler foi aproveitar a arquitetura medieval imponente de Avignon e registrar, através da música e do teatro, as vibrações e a história desse lugar construído no século 14 para acolher os papas foragidos da Itália.

 

O espetáculo é muito mais uma performance musical do que teatral, com momentos sublimes de cânticos medievais. Apesar do humor bem cáustico contra a vida papal e a hipocrisia da igreja, que arranca alguns risos da plateia, muitos espectadores abandonam a peça no meio, desconcertados com os movimentos repetitivos dos atores e atrizes em cena.

Apesar do título –Papperlapapp quer dizer Blá Blá Blá em alemão- a peça praticamente não tem texto, o que decepciona alguns espectadores, frequentadores assíduos do festival.

Para outros, a mensagem passou : «trata-se de um belo ataque contra a religião, que acontece justamente num lugar tão emblemático como o Palácio dos Papas», afirma a jovem atriz, Caroline Jamet, que veio pela primeira vez ao Festival esse ano.

Polêmica entre puristas e contemporâneos

Quando o ator Jean Vilar criou o Festival de Avignon, em 1947, a proposta era apresentar um teatro exigente que viria ao encontro do público. Sessenta anos depois, esse festival virou um terreno fértil de novas experiências artísticas, cada vez mais distante dos textos clássicos de Molière, Buchner, ou Goldoni, que consagraram seus palcos durante décadas.

Com exceção de uma nova montagem de «A tragédia do rei Ricardo Terceiro» de Shakespeare, que estreia no final de julho, quase toda a programação oficial do Festival de Avignon esse ano é voltada para outros tipos de formas artísticas, bem distantes da dramaturgia clássica : performance, dança, teatro gestual e artes plásticas, o que desagrada mais uma vez alguns saudosistas, aficcionados do teatro clássico que perdeu sua época de ouro em Avignon.

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