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França/Polêmica

Charges de Maomé deixam França em estado de alerta

O Ministério Público (MP) francês recebeu queixa judicial contra o jornal satírico Charlie Hebdo, que publicou nesta quarta-feira caricaturas de Maomé nu e outros desenhos do profeta considerados ofensivos ao islã. Temendo represálias, o governo francês reforçou a segurança em suas representações nos países de maioria muçulmana. No mundo todo, líderes reagiram qualificando os desenhos de "provocação desnecessária" num contexto já tenso.

A segurança foi reforçada em frente à sede do jornal satírico Charlie Hebdo.
A segurança foi reforçada em frente à sede do jornal satírico Charlie Hebdo. REUTERS/Jacky Naegelen
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A queixa judicial contra o jornal satírico foi apresentada pela Associação Síria pela Liberdade, com sede em Paris, e se baseia na legislação que recrimina "a incitação ao ódio religioso". A justiça francesa também vai investigar o ataque de hackers, os piratas da internet, ao site de Charlie Hebdo, que ficou fora do ar desde a manhã desta quarta-feira.

A edição do semanário satírico esgotou nas bancas em poucas horas. Charlie Hebdo repete uma provocação que já havia feito em novembro do ano passado, com um editorial em que Maomé era o redator-chefe, e desta vez publica dez desenhos considerados humilhantes do profeta. Pelo menos em duas charges Maomé aparece nu. A religião islâmica não admite representações grafícas do profeta por considerá-las um sacrilégio.

Governo reforça segurança na França e no exterior

A polícia francesa reforçou a segurança em torno do prédio onde funciona a redação do jornal, em Paris. Temendo reações radicais, o governo ordenou que na sexta-feira, dia sagrado e de orações para os muçulmanos, as escolas e representações diplomáticas francesas fiquem fechadas em 20 países. O consulado francês no Cairo (Egito) informou que, por precaução, as escolas e centros culturais franceses na cidade ficarão fechados desde amanhã. A Tunísia também estendeu o fechamento das escolas francesas do país até segunda-feira.

O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha recomendou aos seus cidadãos que não saiam nas ruas na sexta-feira nos países árabes.

Reações

Durante o dia, líderes religiosos condenaram a publicação dos desenhos na França, sobretudo num contexto internacional explosivo pelos protestos contra o filme americano anti-islã "A inocência dos muçulmanos". O jornal do Vaticano Observatório Romano qualificou a iniciativa do jornal francês de discutível, alertando que o episódio "joga lenha na fogueira no momento em que se tenta a duras penas baixar a tensão que sacode o mundo islâmico" devido ao filme produzido por um copta nos Estados Unidos.

A autoridade religiosa máxima do islã sunita, Al Azhar, com sede no Cairo, condenou categoricamente "a insistência de Charlie Hebdo em publicar caricaturas ofensivas ao islã e ao profeta", em um comunicado difundido pela agência egípcia Mena. "Atos que incitam o ódio em nome da liberdade de expressão são totalmente condenáveis", diz o texto da entidade religiosa sunita. 

Publicação cria situação embaraçosa para o governo francês

O Executivo francês está dividido entre a defesa da liberdade de imprensa e a condenação do jornal por uma provocação, no momento em que o filme americano provoca protestos violentos nos países de maioria muçulmana. O chanceler Laurent Fabius declarou estar preocupado com eventuais repercussões. O ministro defendeu a liberdade de expressão, mas ao mesmo tempo lamentou a iniciativa de Charlie Hebdo. "Foi como colocar mais lenha na fogueira", afirmou.

O diretor de redação do semanário, Stéphane Charbonnier, se defendeu dizendo que Charlie Hebdo é "um jornal satírico, laico e ateu, no qual trabalham pessoas de esquerda, inclusive anarquistas". A publicação é conhecida por fazer piada com todas as religiões, além de se autoproclamar antimilitarista e anticlerical.

O primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault decidiu proibir manifestações contra o filme americano que tinham sido convocadas por islamitas para o sábado, em várias cidades francesas, via redes sociais. "Não há motivos para deixar entrar na França conflitos que não dizem respeito ao país", justificou o premiê. No último sábado, mais de 200 pessoas participaram de uma manifestação não autorizada perto da embaixada dos Estados Unidos, em Paris. A polícia dispersou a manifestação e prendeu 150 pessoas.

Para o analista político Gaspar Estrada, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o governo francês está numa situação "muito complicada", pois não tem como eliminar a liberdade de expressão nem impedir esse tipo de publicação. "Não faz parte da filosofia de nenhum governo na França, seja de direita ou de esquerda, intervir numa situação dessas, mas a manifestação do último sábado em Paris foi um alerta para o governo e a sociedade francesa", afirma Estrada.

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