Jihadistas franceses na Síria reclamam da falta de iPod e ter de lavar louça, diz jornal
Segundo reportagem do jornal Le Figaro, diversos jovens franceses que partiram para a Síria estão contatando suas famílias se dizendo arrependidos de ter se juntado ao grupo Estado Islâmico. Nas mensagens divulgadas pelo jornal, eles se dizem decepcionados, lamentam serem obrigados a cumprir tarefas cotidianas e a distância da tecnologia.
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“Eu não faço nada além de distribuir roupas e comida. Também tenho que limpar armas e transportar corpos de combatentes mortos”, relata um deles, que vive em Alepo. Ele também lamenta: “Está ficando difícil com a chegada do inverno”.
Segundo o Le Figaro, as mensagens impressionam pela ingenuidade de seu conteúdo e também pelo choque de realidade de jovens que cresceram em um mundo conectado ao depararem com o estilo de vida medieval dos jihadistas: “Não aguento mais. Meu iPod não funciona mais. Preciso voltar!”, diz uma mensagem. Outro jihadista diz que está cansado de ter de lavar a louça. Há também relatos mais dramáticos: “Eles querem me enviar à frente de batalha, mas eu não sei combater...”.
Ao final de todas as mensagens está sempre a questão: “o que vai acontecer comigo se eu voltar à França?”. Segundo o Figaro, muitos jihadistas estão contratando advogados para poder retornar sem o risco de serem presos ou processados. “Nós estamos em contato com autoridades policiais e judiciárias, mas é um assunto muito sensível”, afirma um advogado, que não se identificou. O jornal diz que dentro do governo francês há muita resistência em negociar rendições, considerando o risco de que algum dos supostos ex-jihadistas acabe cometendo um antenado em território francês.
Retorno difícil
A estratégia dos advogados é se preparar para um momento em que a opinião pública se torne mais favorável. “A ideia é provar que os nossos clientes tem boa fé e também começar a preparar documentos que, no momento adequado, fornecerão provas para os juízes”, afirma um dos defensores. Os advogados incentivam as famílias a guardar mensagens e emails, como os que foram publicados pelo Figaro.
Os que contataram o governo francês em busca de rendição receberam uma resposta vaga: “Apresente-se no consulado Francês em Istambul ou em Erbil. Depois, nós veremos”. O Direito Francês prevê o estatuto de “arrependido”, mas ele é utilizado praticamente apenas em casos envolvendo drogas. A política do ministro do Interior Bernard Cazeneuve, segundo o Le Figaro, continuará sendo a de evitar a todo preço que jovens franceses partam, já que, claramente, é mais fácil ir embora do que voltar.
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