Líbios contam como foi viver tanto tempo sob a ditadura de Kadafi
"A vida no país de Kadafi: um pesadelo que já dura quarenta e um anos." Com este título no jornal francês Libération, a reportagem do jornalista Christophe Ayad, enviado especial à Líbia, relata as conversas que ele teve nas últimas semanas com moradores da cidade de Benghazi, sede da oposição ao regime de Muammar Kadafi.
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O repórter escreve que a ditadura na Líbia é regida pelo absurdo e pelo caos e que os comitês revolucionários criados por Kadafi, que representam a espinha dorsal do poder líbio, são, na verdade, uma forma de vigiar o povo de perto.
Um dos testemunhos é o de Abdelkader Kadura, 60 anos, professor de direito público na Universidade Garyounes de Benghazi. "Meu trabalho é difícil sobretudo em um país que não possui uma Constituição", diz o professor. Ele conta que seus cursos são teóricos e ele nunca aborda o direito público na Líbia, apenas os sistemas estrangeiros.
Para o professor, "Kadafi reinou através do vazio", pois destruiu todas as instituições que pudessem representar um contra-poder: exército, fundações religiosas, confrarias, universidades e até o mundo dos negócios, que passou a ser controlado pelo governo. "Kadafi não queria que nada que precedesse sua chegada ao poder ficasse de pé", afirma Abdelkader Kadura.
Outro relato publicado pelo Libération é o do líbio Ramadan Jarbou, de 67 anos, que pertencia à classe média alta da cidade de Benghazi. Sua família perdeu terras e empresas durante o regime ditatorial. "Kadafi quis transformar todos os líbios em funcionários públicos, mas ele não era um verdadeiro socialista. O que ele queria era empobrecer a população para mantê-la em suas mãos", analisa Jarbou.
Crianças aprendiam a usar armas na escola
Outro entrevistado do jornal, identificado apenas como Zyad, se lembra das cenas da infância nos anos 80, quando os alunos de sua escola eram convocados a queimar livros de língua inglesa e instrumentos de música do Ocidente. "Bateria, guitarra, piano, tudo jogado na fogueira", diz ele. "Toda semana, no lugar do curso de educação física, as crianças de apenas 10 anos aprendiam a manusear uma arma Kalachnikov", acrescenta.
Os entrevistados da reportagem não sabem ainda como será a Líbia sem Muammar Kadafi, mas dizem esperar dias melhores.
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