Risco de fragmentação da Ucrânia se agravou com referendos
Os jornais desta segunda-feira (12) destacam em manchete a crise política na Ucrânia e a realização dos referendos de independência, neste domingo, nas regiões de Donetsk e Lugansk. Sobre a imagem de um miliciano pró-russo encapuzado e com uma metralhadora Kalashnikov em punho, o jornal de esquerda Libération afirma que o presidente russo, Vladimir Putin, está no comando das manobras e segue com o trabalho de desestabilização da Ucrânia.
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O Libération foi até as cidades rebeladas no leste da Ucrânia, entrevistou pró-ucranianos e independentistas e chegou à conclusão que reina uma grande confusão. Os separatistas dominaram os prédios públicos, mas nas ruas os nacionalistas não se identificam com a truculência dos pró-russos.
Em seu editorial, o Libération afirma que na maior impunidade e "com sucesso" o presidente Vladimir Putin "prossegue na estratégia da guerra de conquistas. "Ontem a Crimeia, hoje a Ucrânia, amanhã talvez a Moldávia e os países bálticos", escreve o Libération sobre as conquistas de Putin, que "violam todas as regras do direito internacional". O jornal considera os referendos "uma farsa" e critica as condições em que foram organizados: "sem listas eleitorais, cabines para voto secreto e observadores independentes".
O Libération critica duramente os europeus, que "se contentam em aplicar sanções contra a Rússia" sem dar o apoio que a Ucrânia merecia. Em um texto de análise, o Libération mostra que os europeus estão divididos em relação a uma reação mais agressiva contra Moscou e esperam o resultado das eleições de 25 de maio para ver o que fazer.
Situação sem retorno
O diário Le Figaro acredita que a Ucrânia está a caminho da fragmentação. Para o jornal conservador, os referendos deste domingo marcam "uma guinada sem retorno". Le Figaro estima que o governo interino de Kiev foi mal aconselhado pelos europeus e americanos. Teria sido melhor enviar uma mensagem de tolerância aos pró-russos do que hostilizá-los abertamente. O jornal acredita que os habitantes de outras regiões da Ucrânia que falam russo vão se inspirar nas experiências da Crimeia, de Donetsk e Lugansk para reivindicar um pertencimento histórico e cultural à Rússia.
Para o Le Figaro, Putin tem a faca e o queijo na mão. Provavelmente, ele "vai deixar a situação degenerar ainda mais no leste da Ucrânia para transformar o país numa federação", o que ele sempre quis, segundo o Le Figaro.
Le Parisien nota que a maioria dos eleitores pró-Kiev boicotou as urnas. É muito complicado analisar os resultados dos referendos porque só foram votar as pessoas que são a favor da independência, escreve o Le Parisien. Segundo o diário popular, os separatistas evocaram uma taxa de participação de 70%, mas os pró-ucranianos relatam que havia quatro vezes menos seções eleitorais abertas do que em outras votações.
Ex-chanceler alemão critica visão da União Europeia
O jornal Les Echos apresenta a opinião do ex-chanceler alemão Gerard Schroeder, que se tornou um grande amigo de Putin depois que deixou o governo na Alemanha. Para o ex-chanceler social-democrata, "a União Europeia esquece que a Ucrânia é um país profundamente dividido culturalmente". Schroeder lembra que os habitantes do sul e do leste da Ucrânia sempre viveram voltados para a Rússia e os do oeste, para a Europa.
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