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OCDE/ bem-estar

Você acha que o mundo antigamente era melhor? Estudo prova que não

Nossos antepassados tinham uma vida melhor do que a nossa? Como era viver no século 19, nos países ricos ou nos pobres? O desenvolvimento traz mais qualidade de vida? Um estudo publicado nesta quinta-feira pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento) analisou as mudanças no bem-estar em todas as regiões do mundo, desde 1820. A conclusão é de que, na maioria dos países, como o Brasil, a qualidade de vida das pessoas deu um salto nos últimos 190 anos.

Diminuição das desigualdades de gênero levaram as mulheres a ocupar cargos mais importantes na sociedade.
Diminuição das desigualdades de gênero levaram as mulheres a ocupar cargos mais importantes na sociedade. Photo MONUSCO / Martin Kobler
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O relatório inédito “Como era a vida?” avalia a evolução das sociedades além dos índices do PIB (Produto Interno Bruto). O estudo leva em consideração fatores como a diminuição das desigualdades, a educação, a esperança de vida, o fortalecimento das instituições democráticas e a segurança.

Com exceção da África subsaariana, todas as regiões do mundo hoje têm menos desigualdades do que em 1820. O coordenador do estudo, Jan Luiten van Zanden, afirma que o caso do Brasil exemplifica essas melhorias.

“Ainda é uma sociedade muito desigual, uma situação típica na América Latina depois das décadas perdidas no fim do século 20, em especial os anos 1980, com um período de declínio econômico e estagnação. Mas se você olha os dados de bem-estar em outras épocas, você pode ficar mais positivo porque houve uma transição para mais democracia, os índices de educação estão em crescimento contínuo, a esperança de vida também”, sublinha. “Se você olha a longo prazo, o bem-estar na América Latina vem melhorando muito mais do que se você olha apenas os dados de PIB per capita, por exemplo. Acho que os latino-americanos deveriam ser mais orgulhosos das suas conquistas.”

Melhores salários

O relatório mostra que, na média mundial, a renda per capita cresceu 10 vezes desde 1820 e o valor do salário dos operários se multiplicou por oito no período. O estudo também indica que a globalização contribuiu para acentuar as desigualdades de renda nos países, mas ajudou a diminuir as diferenças entre as economias.

Para van Zanden, a industrialização não é sinônimo de uma vida melhor, mas ajuda os países a conquistarem avanços importantes para a vida da população. “Eu acho que a industrialização é importante para o desenvolvimento econômico a longo prazo. Se você está em um certo ponto de desenvolvimento econômico, é mais fácil para prosperar”, explica. “Mas depois de alguns estágios você precisa diversificar a sua economia e melhorar os seus serviços e todas as outras atividades.”

Há 190 anos, menos de 20% da população mundial sabia ler e escrever – um índice que subiu para 80% em 2000. No fim do século 19, a expectativa de vida era de apenas 30 anos, contra 70 anos na década de 2000.

Idealização do passado

O estudo mostra que os progressos da medicina permitiram aumentar a esperança de vida, independentemente da evolução do PIB. O coordenador do estudo afirma que, por mais defeitos que as sociedades atuais ainda tenham, a ideia de que a vida no passado era melhor não passa de ilusão.

“A esperança de vida era muito baixa e grande parte da população era escrava e quase não tinha acesso à educação. Portanto não tenho certeza de que esse era o tipo de sociedade com a qual todo o mundo sonha”, comenta. “Não devemos idealizar as gerações precedentes. A vida deles era muito difícil e não pense que eles viviam no paraíso.”

Na apresentação do relatório, van Zanden destacou os avanços em relação à redução das desigualdades de gênero, com o acesso das mulheres ao voto e ao mercado de trabalho na maioria dos países. No entanto, ainda persistem diferenças marcantes entre as regiões sobre a questão, e nenhum lugar do mundo chegou à paridade entre os sexos.

Violência

Quanto à violência, o estudo indica que o índice de homicídios não está relacionado com a riqueza de um país. Apesar de ter o maior PIB do mundo, os Estados Unidos registram um alto número de assassinatos.

No Brasil, o índice de homicídios a cada 100 mil habitantes aumentou quase cinco vezes desde 1830. Naquele ano, eram cometidos 5,6 crimes, e nos anos 2000 a ocorrência passou para 26,4. Segundo os especialistas da OCDE, as desigualdades sociais e a existência de quadrilhas são as duas principais explicações para a alta incidência de homicídios.
 

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