Romances, fobias e extremismo marcaram a política francesa em 2014
Embora Papai Noel tenha trazido para François Hollande uma cadelinha da raça labrador, a simpática Philae, o baixo índice de popularidade do presidente mostra que os franceses não o consideraram um bom menino em 2014. No ano que marcou a metade de seu mandato, o socialista viu seu casamento desmoronar, um colega de partido virar piada nacional devido à inédita doença “fobia administrativa” e a extrema direita da Frente Nacional se tornar o partido mais popular da França.
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Segundo uma sondagem encomendada pelo jornal Aujourd’hui en France e divulgada neste sábado (27), a maioria dos franceses (51%) considera o fato político do ano a vitória da Frente Nacional de Marine Le Pen nas eleições para o parlamento europeu. Em segundo lugar vem a nova organização administrativa da França, que divide o país em 13 regiões, e, em terceiro, o retorno do ex-presidente Nicolas Sarkozy à cena política.
Hollande só aparece na pesquisa em sexto lugar e de maneira não muito honrosa: 10% consideram o fato político do ano o lançamento do livro “Obrigado por Este Momento”, em que a ex-mulher do presidente Valérie Trierweiller conta detalhes da convivência e da separação do casal, causada pelo romance extraconjugal de Hollande com a atriz Julie Gayet.
Deputado sofria de “fobia administrativa”
Embora o ano tenha sido marcado por uma quantidade razoável de crises políticas – como a interminável verificação das contas de campanha de Nicolas Sarkozy –, o escândalo que “caiu no gosto” dos franceses foi o do deputado socialista Thomas Thévenoud – possivelmente pelo caráter “palpável” da história, mais próxima do cotidiano dos cidadãos do que o intrincado Caso Bygmalion de Sarkozy. 40% dos franceses elegeram Thévenoud como a “personalidade escandalosa” do ano.
O deputado do departamento de Saône-et-Loire foi obrigado a se demitir do cargo de Secretário de Estado do Comércio Exterior apenas nove dias depois de ser nomeado, quando se descobriu que ele não declarava o imposto de renda havia três anos, além de ter contas de luz e água atrasadas.
A explicação dada por Thévenoud já entrou para o folclore político nacional: ele alegou sofrer de uma doença chamada “fobia administrativa” – desconhecida da maioria dos especialistas franceses, que se debruçaram semanas sobre toda a literatura médica existente com a intenção de tentar ajudar o deputado, sem sucesso.
Brindando o reveillon com Sarkozy
A pesquisa do Aujourd’hui en France, realizada pelo instituto Odoxa, ainda fez aos franceses uma pergunta insólita, mas que não chega a surpreender em um país em que personalidades políticas gozam de status de celebridade por vezes mais populares que as participantes do Secret Story – o menosprezado Big Brother local. “Com qual destas personalidades você gostaria de passar a noite de Ano Novo?”, perguntou o instituto de pesquisa.
Segundo a sondagem, entre uma lista de políticos nacionais, a maior parte dos entrevistados escolheria brindar a champagne e trocar um abraço com partidários de direita. Liderando a lista do tim-tim vem Nicolas Sarkozy (19%), seguido pela líder de extrema-direita Marine Le Pen (17%) e pelos apoiadores do ex-presidente Rama Yade (17%) e Alain Juppé (14%).
O primeiro socialista da fila é o atual primeiro-ministro, Manuel Valls, na quinta posição, escolhido por 12% dos entrevistados. O presidente François Hollande aparece na 11ª posição: apenas 9% dos franceses dizem querer amanhecer o ano novo ao lado do presidente. Por sorte ele terá a companhia fiel da recém-chegada Philae.
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