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Economias

Guiné-Bissau: Covid-19 paralisa campanha de caju e "população está a passar fome”

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A castanha de caju é a base da economia guineense e o principal produto de exportação do país. Cerca de 80% da população depende directa ou indirectamente da comercialização e exportação deste “produto-petróleo”, que está parada por causa das restrições mundiais e locais ligadas à pandemia de covid-19. “A situação é dramática” e “a população está a passar fome”, alerta o presidente da Associação de Exportadores da Guiné-Bissau, Mamadu Iero Djamanca.

Castanha de caju. 10 de Maio de 2017, perto de Bissau.
Castanha de caju. 10 de Maio de 2017, perto de Bissau. AFP - SEYLLOU
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A Guiné-Bissau tem 1,8 milhões de habitantes e cerca de 80% da população depende directa ou indirectamente da comercialização e exportação da castanha de caju, que está parada por causa das medidas de restrição ligadas ao combate ao novo coronavírus. A Índia é o principal comprador mas as fronteiras estão fechadas e de qualquer modo os indianos estão bloqueados no seu país. Os comerciantes locais estão confinados também e há famílias inteiras dependentes da comercialização do caju que fazem contas à vida e que “estão a passar fome”.

O alerta já tinha sido dado pela Liga Guineense dos Direitos Humanos e foi reiterado à RFI pelo presidente da Associação de Exportadores da Guiné-Bissau, Mamadu Iero Djamanca.

"A Guiné-Bissau, como se sabe, vive de uma forma transversal da campanha de comercialização e exportação da castanha de caju e, neste momento, com o confinamento geral a situação é dramática porque todo o mundo, desde o agricultor, o intermediário, o exportador, todos nós continuamos confinados (…) O impacto da economia de caju a nível social é tremendo. Neste momento não podemos escamotear a verdade : a população está a passar fome", alerta.

A campanha de comercialização do caju deveria ter começado em meados de Março, mas a pandemia de covid-19 suspendeu tudo.

Quando uma família não pode sair de sua casa para ir ter com a família da casa vizinha já se sabe o que acontece. E quando várias famílias não se podem deslocar da sua aldeia para ir fazer a troca numa outra aldeia onde haverá  uma mercearia cujo proprietário costuma tradicionalmente fazer a compra local da castanha, claro que é o impacto do coronavírus que estamos a viver ”, explicou Mamadu Iero Djamanca, acrescentando que “não se pode fazer nada porque o coronavírus está aí”.

Os exportadores já tinham feito uma proposta, há cerca de um mês, ao governo porque os principais compradores são indianos, vietnamitas e chineses e eles já estavam confinados. Agora, o presidente da Associação de Exportadores da Guiné-Bissau acredita que “o governo está a dar o devido tratamento à proposta” porque a prioridade deve ser ajudar a população e secar a castanha de caju para vender mais tarde.

“O Estado deve chamar os operadores económicos, fazer o levantamento do stock de produtos de primeira necessidade que existem nos armazéns de Bissau. Depois, o Estado deve negociar com operadores económicos, e distribuí-la à população juntos das autoridades locais. Um saquinho de arroz chegava à porta de uma família, com um envelope de 15 mil, 25 mil francos e isto podia minimizar o sofrimento da população."

"Se o Estado conseguir fazer este gesto tremendo, isto podia ter um impacto ao ponto de o agricultor poder ir – não convivendo tradicionalmente -  para o campo, uma ou duas pessoas, apanhar a castanha de caju, promover as boas práticas que são a limpeza e a secagem. A partir daí, guardava-se a castanha até este período passar e assim também podíamos ter um melhor preço para o próprio produto que está melhor tratado e bem feito”, considera.

De uma forma geral, em termos económicos, o país também vai sofrer com a suspensão da campanha de caju.

“Em função de uma campanha ter corrido bem ou muito bem é que  os resultados são direccionados para os investimentos e a melhoria de ambiente de negócios na Guiné. Neste momento, em que os compradores tradicionais não estão, as actividade económicas estão completamente paradas. O caju representa mais de 90% das exportações da Guiné-Bissau e, de facto, vai ser dramático”, continua.

Mas as más notícias podem trazer lições e talvez seja o momento da Guiné se virar para o interior do país e para as suas unidades de processamento:  “Às vezes, as crises podem servir de oportunidades. A Guiné-Bissau tem vindo, há anos, a fazer desta actividade uma coisa muito amadora. Se calhar, com esta situação, vamos passar a aprender e direccionarmos formas de passarmos a fazer com o nosso produto-petroleo que é a castanha de caju, nomeadamente promovermos o processamento local da castanha", conclui.

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Economias: Covid-19 paralisa campanha de caju na Guiné-Bissau

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