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Guiné-Bissau

Guiné-Bissau: o que aconteceu ao deputado da APU-PDGB Marciano Indi?

O deputado e líder da bancada parlamentar da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), Marciano Indi, foi raptado por homens desconhecidos no começo desta tarde quando estava a sair da sua residência em Safim, a cerca de 15 quilómetros da capital, o deputado tendo sido levado para o Ministério do Interior, antes de ser libertado horas mais tarde na sequência da intervenção de Cipriano Cassamá, Presidente da Assembleia Nacional Popular.

Deputado Marciano Indi, depois de receber tratamento médico esta sexta-feira, junto de responsáveis do seu partido, Batista Té (à esquerda) e Saliu Lamba (à direita).
Deputado Marciano Indi, depois de receber tratamento médico esta sexta-feira, junto de responsáveis do seu partido, Batista Té (à esquerda) e Saliu Lamba (à direita). © RFI
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Pouco depois do seu rapto, fontes partidárias e da sociedade civil teceram alertas públicos sobre a situação deste deputado que tem tomado posições abertamente críticas perante o actual poder na Guiné-Bissau.

Em Safim, cidade onde o deputado reside, populares invadiram o posto de segurança local. Na sua página de Facebook, o secretário-geral da APU-PDGB e ex-ministro do Interior, Juliano Fernandes, exigiu a "devolução imediata, já e agora da liberdade ao deputado da nação e líder da bancada parlamentar da APU-PDGB.” Tal acabou por acontecer no final da tarde, Saliu Lamba, um dos vice-presidentes da APU-PDGB, confirmando à RFI que o deputado Marciano Indi tinha sido solto na sequência da intervenção do Presidente do Parlamento, este responsável não deixando contudo de manifestar estranheza pelo sucedido.

01:47

Saliu Lamba, vice-presidente da APU-PDGB

Batista Té, também vice-presidente da APU-PDGB, fez outras revelações à RFI. Alertado por uma das pessoas que acompanhava o deputado Marciano Indi na altura em que foi raptado, Batista Té alertou os meios de comunicação social locais e informou também os representantes da ONU e da CEDEAO no país. Ao contar que o deputado foi interceptado na estrada que liga Safim a Bissau por 5 homens armados circulando num veículo sem matrícula, Batista Té refere que o deputado Marciano Indi foi agredido e sofreu ferimentos na cabeça que o obrigaram a receber tratamento médico após a sua libertação. Ao dar conta da sua incompreensão perante esta situação, Batista Té considerou que se trata de "perseguição política", mas que isto "não pode continuar".

03:56

Batista Té, vice-presidente da APU-PDGB

Este rapto ocorreu num contexto político tenso na Guiné-Bissau, no dia em que terminava o prazo estipulado há um mês pela CEDEAO para o Presidente guineense nomear um novo primeiro-ministro que tivesse em conta os resultados das eleições legislativas de Março do ano passado. Neste cenário, dois blocos reclamam ter a maioria à luz de dois diferentes acordos de incidência parlamentar, um favorável a uma maioria com o PAIGC, outro com o MADEM-G15 e o PRS, ambos rubricados pelo actual Primeiro-ministro e líder da APU-PDGB, Nuno Nabian.

O primeiro acordo assinado pela APU-PDGB juntamente com o PAIGC e outras formações logo após as legislativas do ano passado, permitiu juntar 54 dos 102 assentos parlamentares para dar sustentabilidade ao governo liderado por Aristides Gomes, cujo partido -por si só- não tinha conseguido a maioria absoluta. Contudo, Nuno Nabian incompatibilizou-se rapidamente com o PAIGC e acabou por unir forças com o MADEM-G15 e o PRS. Esta nova aliança materializou-se recentemente, num novo acordo de incidência parlamentar rubricado no passado dia 15 de Maio, já com ele no posto de Primeiro-Ministro desde finais de Fevereiro.

Apesar disto, quatro dos cinco deputados da APU-PDGB, nomeadamente Marciano Indi, defendem que se mantenha o acordo de incidência parlamentar assinado com o PAIGC. Ainda nesta quinta-feira, numa entrevista concedida a um canal televisivo, Marciano Indi colocou em causa a maioria formada por Nabian juntamente com o MADEM-G15 e o PRS e considerou que se o Presidente guineense concedesse o direito de governar "à pretensa nova maioria" ele estaria a cometer uma inconstitucionalidade.

Desde o começo do ano, a Guiné-Bissau tem vivenciado uma nova crise política subsequente às eleições presidenciais do passado mês de Dezembro. Umaro Sissoco Embaló foi dado vencedor pela Comissão Nacional de Eleições, mas o seu adversário, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, não aceitou os resultados e impugnou o processo.

Em finais de Fevereiro, Umaro Sissoco Embaló assumiu a presidência, demitiu o governo de Aristides Gomes e deu posse a um novo governo liderado por Nuno Nabian, sem que o Supremo Tribunal tivesse chegado a pronunciar-se sobre o contencioso eleitoral. Esta instituição remeteu para mais tarde um posicionamento sobre esta matéria, sendo que em Abril o conjunto da comunidade internacional reconheceu Umaro Sissoco Embaló como Presidente da Guiné-Bissau.

 

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