Guiné-Bissau: o que aconteceu ao deputado da APU-PDGB Marciano Indi?
O deputado e líder da bancada parlamentar da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), Marciano Indi, foi raptado por homens desconhecidos no começo desta tarde quando estava a sair da sua residência em Safim, a cerca de 15 quilómetros da capital, o deputado tendo sido levado para o Ministério do Interior, antes de ser libertado horas mais tarde na sequência da intervenção de Cipriano Cassamá, Presidente da Assembleia Nacional Popular.
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Pouco depois do seu rapto, fontes partidárias e da sociedade civil teceram alertas públicos sobre a situação deste deputado que tem tomado posições abertamente críticas perante o actual poder na Guiné-Bissau.
Em Safim, cidade onde o deputado reside, populares invadiram o posto de segurança local. Na sua página de Facebook, o secretário-geral da APU-PDGB e ex-ministro do Interior, Juliano Fernandes, exigiu a "devolução imediata, já e agora da liberdade ao deputado da nação e líder da bancada parlamentar da APU-PDGB.” Tal acabou por acontecer no final da tarde, Saliu Lamba, um dos vice-presidentes da APU-PDGB, confirmando à RFI que o deputado Marciano Indi tinha sido solto na sequência da intervenção do Presidente do Parlamento, este responsável não deixando contudo de manifestar estranheza pelo sucedido.
Saliu Lamba, vice-presidente da APU-PDGB
Batista Té, também vice-presidente da APU-PDGB, fez outras revelações à RFI. Alertado por uma das pessoas que acompanhava o deputado Marciano Indi na altura em que foi raptado, Batista Té alertou os meios de comunicação social locais e informou também os representantes da ONU e da CEDEAO no país. Ao contar que o deputado foi interceptado na estrada que liga Safim a Bissau por 5 homens armados circulando num veículo sem matrícula, Batista Té refere que o deputado Marciano Indi foi agredido e sofreu ferimentos na cabeça que o obrigaram a receber tratamento médico após a sua libertação. Ao dar conta da sua incompreensão perante esta situação, Batista Té considerou que se trata de "perseguição política", mas que isto "não pode continuar".
Batista Té, vice-presidente da APU-PDGB
Este rapto ocorreu num contexto político tenso na Guiné-Bissau, no dia em que terminava o prazo estipulado há um mês pela CEDEAO para o Presidente guineense nomear um novo primeiro-ministro que tivesse em conta os resultados das eleições legislativas de Março do ano passado. Neste cenário, dois blocos reclamam ter a maioria à luz de dois diferentes acordos de incidência parlamentar, um favorável a uma maioria com o PAIGC, outro com o MADEM-G15 e o PRS, ambos rubricados pelo actual Primeiro-ministro e líder da APU-PDGB, Nuno Nabian.
O primeiro acordo assinado pela APU-PDGB juntamente com o PAIGC e outras formações logo após as legislativas do ano passado, permitiu juntar 54 dos 102 assentos parlamentares para dar sustentabilidade ao governo liderado por Aristides Gomes, cujo partido -por si só- não tinha conseguido a maioria absoluta. Contudo, Nuno Nabian incompatibilizou-se rapidamente com o PAIGC e acabou por unir forças com o MADEM-G15 e o PRS. Esta nova aliança materializou-se recentemente, num novo acordo de incidência parlamentar rubricado no passado dia 15 de Maio, já com ele no posto de Primeiro-Ministro desde finais de Fevereiro.
Apesar disto, quatro dos cinco deputados da APU-PDGB, nomeadamente Marciano Indi, defendem que se mantenha o acordo de incidência parlamentar assinado com o PAIGC. Ainda nesta quinta-feira, numa entrevista concedida a um canal televisivo, Marciano Indi colocou em causa a maioria formada por Nabian juntamente com o MADEM-G15 e o PRS e considerou que se o Presidente guineense concedesse o direito de governar "à pretensa nova maioria" ele estaria a cometer uma inconstitucionalidade.
Desde o começo do ano, a Guiné-Bissau tem vivenciado uma nova crise política subsequente às eleições presidenciais do passado mês de Dezembro. Umaro Sissoco Embaló foi dado vencedor pela Comissão Nacional de Eleições, mas o seu adversário, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, não aceitou os resultados e impugnou o processo.
Em finais de Fevereiro, Umaro Sissoco Embaló assumiu a presidência, demitiu o governo de Aristides Gomes e deu posse a um novo governo liderado por Nuno Nabian, sem que o Supremo Tribunal tivesse chegado a pronunciar-se sobre o contencioso eleitoral. Esta instituição remeteu para mais tarde um posicionamento sobre esta matéria, sendo que em Abril o conjunto da comunidade internacional reconheceu Umaro Sissoco Embaló como Presidente da Guiné-Bissau.
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