Moçambique: ONG acusa a França e a Total de despoletarem uma "bomba climática"
A ONG norte-americana, com sede em Londres, Amigos da Terra acusa a França e a companhia petrolífera Total de despoletarem uma "bomba climática" e de atiçarem as tensões em Cabo Delgado, através dos seus projectos de exploração de gás natural liquefeito
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Em relatório publicado esta segunda-feira (15/06) intitulado "Do eldorado do gás ao caos: quando a França empurra Moçambique para a armadilha do gás", a ong Amigos da Terra - Friends of Earth na sigla original - acusa a França e o gigante petrolífero francês Total de ao investirem na exploração do gás natural liquefeito GPL - na província nortenha de Cabo Delgado estarem a forçar Moçambique a depender dos combustíveis fósseis e da maldição dos recursos naturais.
A exploração das gigantescas reservas de gás natural descobertas entre 2010 e 2013 na Bacia do Rovuma, na costa norte de Moçambique, que são as maiores reservas de gás em África e as nonas maiores no mundo, avaliadas em 5.000 biliões de metros cúbicos, têm investimentos previstos no valor de 60 mil milhões de dólares - 4 vezes o PIB de Moçambique em 2019 - sobretudo por parte das petrolíferas francesa Total, norte-americana Exxon Mobil e italiana ENI, que devem começar a explorar o gás natural liquefeito entre 2022/2023.
A Total prevê investir 25 mil milhões de dólares, mas estes investimentos têm sido adiados devido aos ataques - raramente reivindicados - perpetrados desde 2017 na região.
Este enorme potencial de gás e o consequente maior investimento estrangeiro jamais realisado na África subsariana, está na origem da contracção dos mais de dois mil milhões de dólares de "dívidas ocultas" e dos ataques que desde outubro de 2017 assolam a província de Cabo Delgado e que provocaram pelo menos 1.100 mortos e mais de 100.000 deslocados, segundo a ong Projecto de Localização e Dados de Eventos de Conflitos Armados.
Segundo o relatório a diplomacia económica francesa trabalha intensamente, para defender os interesses da França em Moçambique e está a "forçar este país a depender dos combustíveis fósseis em nome dos interesses económicos dos industriais e banqueiros franceses do sector da energia".
A ong Amigos da Terra afirma que os três projectos de gás actualmente em desenvolvimento na região "poderiam libertar o equivalente a 7 vezes as emissões anuais de gazes com efeito de estufa da França e 49 vezes as actuais emissões de Moçambique", alertando que se trata de uma "bomba climática pronta para explodir e que contribuirá para empurrar o planeta ainda mais para a irreversível crise climática".
Moçambique é um dos países do mundo mais atingidos pelas alterações climáticas, casos dos ciclones Idai e Kenneth e esta ong acusa a França de agravar a crise climática e se tornar cúmplice de violações de direitos humanos e de práticas de corrupção.
Amigos da Terra acusa a França e a Total de "ajudarem a atiçar as tensões na província de Cabo Delgado, apoiando empresas multinacionais de gás e a militarização da zona" e pede a cessação imediata do seu envolvimento nestas áreas, bem como a dos bancos franceses Crédit Agricole e Société Générale que são os "principais actores que actuam como consultores financeiros para os operadores de gás".
Várias ongs têm denunciado ainda a falta de concertação e expulsão compulsiva das populações, com milhares de deslocados, devido aos mega-projectos em Cabo Delgado
As ongs Amigos da Terra e Survie apresentaram em junho de 2019 uma queixa contra a França e a Total pela falta de transparência no seu mega-projecto de exploração de gás Tolenga, no Uganda, constituído por 419 poços em 6 campos petrolíferos, com a deslocação de cerca de 50.000 pessoas, perto do Lago Alberto.
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