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Moçambique/COP28/Sociedade civil

Planeta terá aquecimento de 1,5 graus em 7 anos

Maputo/Dubai – O mundo deverá no prazo de sete anos atingir, inevitavelmente, a fasquia do aquecimento de um grau e meio, o patamar que tinha sido definido há oito anos no Acordo de Paris. O alerta foi dado nesta terça-feira, 5 de Dezembro, em plena COP28 de Dubai, pelos cientistas do chamado Global Carbon Project. Em causa a manutenção dos gases com efeito de estufa.

Planeta continua a aquecer porque as emissões de gases com efeito de estufa não pararam.
Planeta continua a aquecer porque as emissões de gases com efeito de estufa não pararam. © Timothy Fadek / Bloomberg via Getty Images
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A China, os Estados Unidos e a Índia são os três primeiros países poluidores do mundo.

A Índia, doravante primeira potência demográfica do mundo, acaba por ultrapassar a União Europeia: as suas emissões de gases com efeito de estufa deveriam em 2023 sofrer um acréscimo de 8% em relação ao ano passado, contra 4% de aumento para a China.

A desflorestação e, sobretudo, a utilização de combustíveis fósseis e do cimento explica este cenário, um contexto ao qual não é alheia a retoma do tráfego aéreo internacional.

O carvão, maior poluidor, continuaria, mesmo, a ser ainda mais utilizado na China e na Índia, embora nos Estados Unidos e na União Europeia, a sua utilização tenha baixado.

Anabela Lemos, directora da ong moçambicana Justiça ambiental alega que esta notícia de em 7 anos o planeta aquecer já 1,5° celsius (a fasquia que se pretendia impor, no pior dos casos, a todo o planeta, de acordo com o Acordo de Paris de 2015) a assusta e denuncia o que chama de "hipocrisia" em torno da conferência do clima a decorrer actualmente.

"Inspira-me aquilo que nós, movimentos de justiça climática, andamos a dizer há anos, que as metas de Paris não eram suficientes. Inspira-me medo do futuro do planeta. E inspira-me um repúdio, uma revolta e hipocrisia quanto às Cops.

Nós, este ano, já em vários movimentos do mundo, boicotámos a COP por causa da hipocrisia climática. É o limite que podia acontecer, que a COP esteja a decorrer num petro-estado, em que o Presidente da COP é o Presidente de companhias petroleiras.

Antes da COP, o presidente do evento já fazia declarações a dizer que devia passar-se do famoso face up de combustíveis fósseis para uma paragem completa e uma transição justa de combustíveis alternativos. Ele, antes da COP, já estava a falar. Devíamos pensar numa diminuição e não uma paragem completa nos combustíveis fósseis. Então, muito antes da COP, já não tínhamos muita esperança de que algum acordo esteja a acontecer e nós estamos nisto há 28 anos. É dois passos para a frente e 3 para trás e não estamos a ter soluções de uma crise que nós estamos a passar e que vai aumentar. Os países do Sul já estão a sofrer com os impactos. Moçambique está a sofrer com problemas de clima e de aumento da temperatura, secas, cheias…

E continuamos a ignorar a ciência. Voltaram até questões de questionarem a ciência e isto está a chegar a um ponto de hipocrisia enorme."

Mas está a falar-se, por exemplo, de uma autêntica explosão das emissões de gases com efeito de estufa, junto de um gigante asiático que é a Índia. Isso surpreende-a?

"Não, não me surpreende a India, mas temos de pensar."

Que é o país do mundo mais povoado a partir de agora !

"Sim, é. Mas, para além disso, a industrialização e a passagem de muitos dos processos de transformação vai para a China e para a India e depois é exportado para a Europa e para os outros mundos. 

Então é tudo um desbalanço completo [em relação] à realidade e como devemos trabalhar para esta mudança. Eu acredito plenamente que pode haver certos países que têm vontade, mas a maioria é controlada pelas companhias de combustíveis fósseis. E as Cops dos últimos anos, este ano muito pior, tem sido os lobbistas das companhias fósseis, têm sido mais do que muitas as delegações de certos Estados. Só aí vemos que é de todo impossível haver um acordo que possa realmente preocupar-se com as pessoas e com o aquecimento que está a acontecer. 

O 1.5 graus acima não é surpresa. Nós andamos a dizer que as metas, mesmo as metas que foram dadas em Paris, que não são obrigatórias, não eram suficientes." 

Também é um problema não ser vinculativo, não é?

Pois, uma coisa que não é vinculativa, ninguém obriga nenhum estado a cumprir aquilo. São decisões voluntárias. Outra coisa que para nós tem sido chocante é as soluções falsas. Porque enquanto tentamos enganar que "vamos poluir aqui, vamos emitir aqui e, depois, contrabalançamos com uma floresta"... que não é a realidade... ou com uma plantação estamos a destruir todos aqueles ecossistemas que nos protegem para o aquecimento global. E o grande exemplo é Moçambique !"

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