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Síria/Liga Árabe

Observador da Missão da Liga Árabe à Síria pede demissão

Um representante da missão de observadores da Liga Árabe enviada à Síria pediu sua demissão nesta quarta-feira e acusou o regime de Bashar al-Assad de manipulação e cometer “crimes em série”. O argelino Anouar Malek é o primeiro membro da missão a pedir demissão desde a chegada dos observadores ao país no dia 26 de dezembro.

Para ex-observador argelino da Liga Árabe na Síria, o regime de al-Assad encenou tudo o que foi mostrado à missão.
Para ex-observador argelino da Liga Árabe na Síria, o regime de al-Assad encenou tudo o que foi mostrado à missão. REUTERS/Sana/Handout
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“Os observadores foram enganados (…) o regime fez uma encenação e armou a maior parte das coisas que vimos para impedir a Liga Árabe de agir”, disse Malek em entrevista à rede de tevê Al-Jazeera, do Catar.

“Vi um verdadeiro desastre humanitário. O regime não cometeu nenhum crime de guerra, mas uma série de crimes contra seu povo”, acrescentou o argelino afirmando que a situação é mais catastrófica na cidade de Homs, epicentro da revolta popular contra al-Assad.

Anouar Malek disse ainda que o regime de Damasco não cumpriu nenhum ponto proposto no plano para saída da crise. Segundo ele, as forças governamentais não retiraram os tanques das ruas e, sim, esconderam e deslocaram os veículos para outros locais após a saída dos observadores.

“Os prisioneiros são torturados, ninguém foi liberado”, reforçou Malek, acusando o regime de parar pessoas nas ruas e exibi-las como ex-prisioneiras.

Dúvidas

A Turquia questionou nesta terça-feira a continuidade da missão de observadores à Síria enviada pela Liga Árabe após os ataques contra os representantes enviados ao país. “Os observadores da Liga Árabe não podem realizar suas ações como previsto. Eles encontraram vários obstáculos. O ataque de Lattaquié gera dúvidas quanto à continuidade da missão”, afirmou o ministro das Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu.

“Nós continuamos a apoiar a missão da Liga Árabe”, acrescentou o chanceler, lembrando que o objetivo da missão é de colocar fim “às violações dos direitos humanos na Síria” e “pacificar” o país. “É inaceitável que o derramamento de sangue continue durante a presença da missão no país”, declarou o Davutoglu.

O ministério da Defesa do Koweit anunciou nesta terça-feira que dois oficiais do país participando da missão tinham ficado “levemente feridos” após um ataque realizado por “manifestantes não identificados” durante o trajeto em direção à cidade de Lattaquié, na costa mediterrânea, na segunda-feira.

Após o ataque, a Liga Árabe denunciou “ações irresponsáveis e atos de violência contra seus observadores.
Em um comunicado, o chefe da organização árabe, Nabil al-Arabi, acusou pessoas pró-regime de serem os responsáveis pelo ataque contra os observadores da missão.

Foi a primeira vez que incidentes foram registrados no país desde a chegada da missão de observadores da Liga Árabe à Síria no dia 26 de dezembro. A presença dos observadores não diminui a repressão das forças governamentais contra os opositores, que segundo a ONU já deixou mais de 5 mil mortos.

Cristãos

Em entrevista ao jornal francês Le Figaro nesta quarta-feira, Jean-Clément Jeanbart, arcebispo de Alep, expressou sua preocupação com as consequências para a comunidade cristã de uma possível queda do regime de Bashar al-Assad.

“Nós estamos muito preocupados com as consequências de uma queda do regime, que poderia levar muitos fiéis a emigrar, como no Iraque depois da queda de Saddam Hussein”, afirmou. Para o arcebispo, “ apesar da violência, é preciso dar uma oportunidade à (Bashar) al-Assad”.

“Os cristãos não têm confiança em um poder sunita extremista. Nós tememos o domínio da Irmandade Muçulmana dogmática”, afirmou o arcebispo em referência ao movimento muçulmano. Na entrevista, o líder religioso também comentou que a nova Constituição anunciada pelo presidente sírio traz pontos interessantes como a manutenção do princípio da laicidade no país.

Arábia Saudita adota sanções

A Arábia Saudita impôs sanções econômicas contra a Síria, conforme a decisão da Liga Árabe adotada no final de novembro, informou nesta quarta-feira o diário sírio al-Watan. As sanções prevêm uma série de medidas severas para pressionar o regime do presidente Bashar Al-Assad a por um fim na repressão violenta contra seus opositores.

“A representação (diplomática) da Arábia Saudita na Liga Árabe no Cairo enviou uma carta oficial ontem (terça-feira) indicando que o país começará a aplicar a decisão adotada pelos ministros das Relações Exteriores árabes prevendo sanções econômicas contra a Síria”, relata o jornal. “As sanções impostas pelo país serão efetivas a partir da data do envio da carta”, escreveu o al-Watan, acrescentando que a representação saudita pediu à Liga Árabe distribuir a carta a todas as delegações, incluindo a da Síria.

No final de novembro a Liga Árabe adotou uma série de sanções econômicas severas contra a Síria que prevêm, entre outras medidas, o congelamento de transações comerciais com Damasco e das contas bancárias do governo sírio nos países árabes, a proibição de viagens de representantes sírios aos países árabes bem como a suspensão das ligações aéreas com os países árabes.

A economia síria, já bastante afetada pelas sanções dos europeus e americanos, pode ainda sofrer um agravamento com a decisão da Liga Árabe, o que deverá diminuir ainda mais o poder aquisitivo da população bastante afetado desde o início da crise, em março do ano passado.
 

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