Acesso ao principal conteúdo
Irã/Manifestações

Conservadores iranianos protestam contra Estados Unidos e Israel

Milhares de conservadores saíram às ruas no Irã nesta segunda-feira para festejar o 34° aniversário da invasão da embaixada dos Estados Unidos em Teerã, que provocou a ruptura das relações entre os dois países. A manifestação é a mais volumosa dos últimos anos, por conta da reaproximação com Washington promovida pelo presidente moderado Hassan Rohani.

Conservadores criticam presidente Hassan Rohani (foto) por moderação diante das potências ocidentais
Conservadores criticam presidente Hassan Rohani (foto) por moderação diante das potências ocidentais REUTERS/Keith Bedford
Publicidade

Sob gritos de "Morte à América" e "Morte a Israel", os manifestantes tomaram diversas cidades do país, queimaram bandeiras das potências ocidentais e exibiram maquetes de centrífugas de enriquecimento de urânio, símbolo da resistência iraniana contra as sanções impostas pelo Ocidente por conta de seu programa nuclear.

Para o antigo negociador nuclear Said Jalili, que estava nos protestos, "o slogan 'Morte à América' não é endereçado à população, mas ao governo norte-americano, que oprime outros povos". Jalili lembrou o 4 de novembro de 1979, quando um grupo de estudantes islâmicos invadiou a embaixada americana em Teerã e manteve 52 diplomatas como reféns durante 444 dias, para exigir o retorno de um xá hospitalizado nos Estados Unidos e protestar contra "ingerências americanas" no país. A ex-representação diplomática foi rebatizada de "ninho de espiões" e virou um centro cultural, que abriga um museu dos crimes americanos contra o Irã.

"Há 34 anos, nós dissemos ao mundo que a embaixada americana era um lugar de espionagem e complô. Hoje, até os amigos e aliados dos Estados Unidos chegaram à mesma conclusão", afirmou o ex-negociador, em referência aos casos de espionagem norte-americana deflagrados pelas denúncias do ex-analista de informática da CIA Edward Snowden.

Para ilustrar o escândalo, os manifestantes exibiam um cartaz intitulado "A traição de Satã", que mostrava a chanceler alemã Angela Merkel segurando um telefone celular, que a NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) teria grampeado.

Jalili, que foi criticado por sua recusa a qualquer concessão em relação ao programa nuclear iraniano, declarou seu apoio ao governo e à nova equipe de negociação para defender "os direitos nucleares do Irã diante da hostilidade dos inimigos".

Moderação ou subserviência
Israel e as potências internacionais suspeitam que Teerã use seu programa nuclear civil como uma fachada para obter a bomba atômica. Sob o ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad, as conversas sobre o assunto praticamente se restringiram a sanções e ameaças. Hassan Rohani procurou relaçar as negociações com o grupo dos 5+1 (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha).

Em setembro, à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, ele conversou por telefone com o presidente Barack Obama, um contato sem precedentes entre os dois países desde a Revolução Islâmica, em 1979. Este gesto foi criticado por conservadores iranianos, mas também pelo Guia Supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, para quem certas atitudes de Rohani em Nova York não foram adequadas.

Às vésperas de uma nova rodada de negociações, Khamenei advertiu: "Não devemos confiar em um inimigo que nos sorri", lembrando que os americanos negociam ao mesmo tempo em que ameaçam o Irã de novas sanções. Interrompidas em abril, as discussões foram retomadas na metade de outubro em Genebra e devem continuar nas próximas quinta e sexta-feiras.

Sem otimismo
Nesta segunda-feira, Hassan Rohani declarou que o governo não estar "otimista" com relação aos ocidentais e as negociações em curso, mas garantiu que isso "não quer dizer que não devamos ter esperanças de, no longo prazo, resolver os problemas" provocados pelas sanções econômicas impostas pelo Ocidente.

No fim de setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, Rohani havia dito que seu governo pretende encerrar a crise nuclear "em meses, não em anos", sempre se recusando a renunciar a seu programa de enriquecimento de urânio. "Se quiséssemos ceder nossos direitos, o teríamos feito em 2003 e não teríamos passado por todos esses problemas", afirmou nesta segunda-feira.

Em 2003, Teerã havia aceito suspender o programa e aplicar o protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação, que permite inspeções de instalações nucleares sem aviso prévio. Mas não ratificou o texto. Dois anos depois, o país retomou o enriquecimento de urânio e deixou de aplicar o protocolo após enviar seu dossiê ao Conselho de Segurança da ONU.
 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Partilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.