António Guterres diz que vacina contra Covid-19 terá de ser bem público mundial
O secretário-geral da ONU, António Guterres, concedeu uma entrevista ao correspondente da rfi na capital do Mali, Serge Daniel. Para o antigo Primeiro-ministro português é imprescindível garantir que uma vacina contra a Covid-19 seja acessível a todos. No que diz respeito ao chá malgaxe Covid Organics ele remeteu o caso para testes a serem feitos pela OMS e afirma, que a lentidão da progressão da pandemia em África é a prova de que o continente soube reagir atempadamente.
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Vários países prosseguem as suas pesquisas para descobrir um tratamento eficaz ou então uma vacina contra a Covid-19, cuja pandemia provoca a primeira grande crise sanitária do século XXI.
Segundo o director dos Institutos Nacionais de Saúde americanos,Francis Collins, se os Estados Unidos for o primeiro país a desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus,ele tem por dever partilhá-la rapidamente com o resto do mundo.
A postura de Collins contrasta com o discurso do Presidente Donald Trump, para quem, em caso de descoberta de uma vacina eficaz pelos Estados Unidos, a prioridade deve ser dada à população americana.
Francis Collins realçou a necessidade de disponibilizar a vacina para regiões do mundo como a África e a América do Sul,onde o Brasil é o país mais severamente afectado pela epidemia.
No decurso da setagésima terceira assembleia anual da Organização Mundial de Saúde, que encerrou no dia 19 de Maio, a maioria dos Estados membros da agência da ONU, com destaque para a China e os países da União Europeia chegaram ao consenso, segundo o qual uma vacina contra a Covid-19 não deve ser submetida aos cânones comerciais,mas ser considerada um bem público mundial, como o afirmaram o Presidente francês Emmanuel Macron e o seu homólogo chinês, Xi Jinping.
O Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, defende também a universalidade do tratamento contra a doença provocada pelo vírus Sars-Cov2.
Numa entrevista concedida à RFI, por ocasião da sua visita ao Mali, Guterres sublinhou que transformar uma futura vacina contra Covid-19 num produto comercial para ricos seria uma injustiça.
António Guterres, secretário geral da ONU
"Devemos sobretudo evitar um mecanismo que transforme a vacina num produto comercial, no qual é o poder financeiro quem decide do acesso a um bem público global.
Evidentemente, se a produção se tornar uma exclusividade do país que inventar uma vacina, com um preço estabelecido por razões comerciais, naturalmente que isso será uma profunda injustiça. E tal significa que só os ricos, e os ricos dos países ricos terão provavelmente acesso a vacina. É uma situação intolerável.
No que diz respeito ao Covid Orgnaics (chá malgaxe),todos os tratamentos, seja qual for a sua origem, devem ser objecto de um teste e a Organização Mundial de Saúde dispõe da capacidade para fazê-lo. E logo que o teste se revelar eficaz, tudo deverá ser feito, para que o mesmo seja generalizado.
A maioria dos governos africanos e das sociedades africanas, tomaram atempadamente medidas muito corajosas de prevenção, que aliás servem de lição para alguns países desenvolvidos que o não fizeram".
( António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas)
O Secretário Geral da ONU, tem chamado igualmente a atenção da comunidade internacional para as consequências sociais e económicas da actual pandemia em África.
António Guterres afirmou que devido à Covid-19, milhões de pessoas poderiam cair numa extrema pobreza. Guterres apelou a um movimento de solidariedade internacional para com o continente africano, destacando o facto de que a pandemia, desencadeada pelo novo coronavírus, ameaça os progressos realizados pela África, nas últimas décadas.
Nas suas recomendações, o Secretário Geral das Nações Unidas lançou um apelo à mobilização internacional, para que sejam reforçados os sistemas sanitários em África e mantidas as redes de abastecimento em alimentação.
António Guterres, destacou igualmente a necessidade de não deixar o continente africano mergulhar numa crise financeira, estimando que África precisa de mais de 200 mil milhões de dólares de apoio suplementar, para enfrentar as consequências da crise sanitária mundial.
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