Morte de Jacqueline Sauvage símbolo da violência conjugal em França
Morreu, aos 72 anos, Jacqueline Sauvage, considerada como o símbolo da violência conjugal em França. Jacqueline Sauvage sofreu 47 anos de maus tratos, da parte do marido e acabou por baleá-lo mortalmente, pelo que cumpriu quatro anos de prisão. Ela acabou por sair em liberdade graças à um indulto presidencial, concedido por François Hollande, então chefe de Estado francês.
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Para muitos franceses, Jacqueline Sauvage falecida no dia 23 de Julho, com 72 anos, no seu domicílio de La Selle-sur-le-Bied , na região de Loiret, centro da França, tornou-se um símbolo da luta das mulheres do seu país contra os maus tratos, no seio do quadro conjugal.
Não se conhecem as causas da morte de Sauvage, confirmada a agência noticiosa AFP, por uma das suas filhas.
Segundo a sua advogada Nathalie Tomasini, Jacqueline contribuiu para alertar as consciências em relação a existência de mulheres que lutaram durante anos no quadro familiar contra a violência conjugal e o silêncio da sociedade francesa.
Tomasini considerou que Jacqueline Sauvage, vítima de maus tratos por parte do marido e pai dos seus quatro filhos durante 47 anos, não só foi mártir no âmbito da sua relação conjugal,mas também sofreu com a incompreensão da justiça.
Sauvage foi condenada com 65 anos à dez anos de prisão, por ter matado o seu marido com três balas nas costas. Depois de ter cumprido quatro anos da pena e graças ao apoio de sectores da opinião pública, ela recuperou a liberdade em 2017, por intermédio de um indulto presidencial concedido por François Hollande.
A decisão do antigo chefe de Estado francês foi criticada, nomeadamente por vários magistrados.
O porta-voz do governo francês Gabriel Attal, considerou na quarta-feira, à saída do conselho de ministros, que Jacqueline Sauvage tinha-se tornado o símbolo da luta contra a violência conjugal no país. Attal acrescentou que o combate contra esse flagelo, que afecta as mulheres francesas, vai prosseguir.
A militante feminista, Fatima Benomar, membro da associação "# Noustoutes" (Nós Todas), através de uma mensagem nas redes sociais, destacou que Jacqueline Sauvage foi uma das caras, que fez com que a opinião pública francesa compreendesse o que significa a violência patriacal contínua e o stress pós-traumático
A história e o calvário de Jacqueline Sauvage, contada no livro "Eu queria apenas que tudo acabasse" ("Je voulais juste que ça s'arrête"), publicado em Março de 2017, comoveu profundamente a França.
Sauvage relata no livro os quarenta e sete anos de vida conjugal com o pai violento dos seus quatros filhos e realça designadamente: "a minha vida parece um campo de ruínas. As minhas filhas sofreram o pior e o meu filho morreu. De que adianta a vida?"
A falecida que lamentou não ter conseguido encontrar as palavras certas na época do seu julgamento,também inspirou o telefilme "Jacqueline Sauvage, c'était lui ou moi" (Jacqueline Sauvage:ou eu ou ele !), que em 2018 captivou uma audiência de oito milhões de espectadores.
A actriz Muriel Robin, que teceu posteriormente laços de amizade com a falecida, encarnou Jacqueline Sauvage no atrás referido filme.
Morte de Jacqueline Sauvage símbolo da violência conjugal 29 07 2020
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