Chefe da diplomacia turca convoca embaixadores depois de apelo a favor de Kavala
O governo turco convocou os embaixadores de dez países para protestar contra o apelo à libertação do filantropo Osman Kavala.O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia afirmou que o sistema judicial turco é independente e qualificou a atitude dos embaixadores de desmedida e irresponsável.
Publicado a:
O Ministério dos Negócios Estrangeiros turco convocou, no dia 19 de Outubro de 2021, os embaixadores dos 10 países que na véspera tinham assinado uma declaração apelando à libertação de Osman Kavala.
As autoridades turcas reiteraram que “o sistema judicial na Turquia é independente” e que “o pedido de libertação excedeu os limites da autoridade dos embaixadores e é irresponsável”.
Os embaixadores de 10 países, que incluem os EUA, Canadá, França, Alemanha, Nova Zelândia, Países Baixos e os quatros países escandinavos, tinham dito que o caso de Kavala, com os sucessivos atrasos no julgamento, “lança uma sombra e dúvidas sobre o respeito pelo Estado de Direito, pela democracia e pelos direitos humanos, e pela transparência do sistema judicial turco”.
Osman Kavala, um conhecido homem de negócios e apoiante de várias causas sociais, foi detido há precisamente quatro anos, acusado de ter conspirado contra o governo turco e de apoiar os protestos populares de 2013, que se seguiram à tentativa de cimentar o parque Gezi no centro de Istambul.
Em Fevereiro de 2020, depois de dois anos e meio de prisão, Kavala foi absolvido, mas no dia em que iria ser libertado foi novamente detido, desta vez acusado de participação no falhado golpe de Estado de 2016 e de espiar para os Estados Unidos da América.
Mais recentemente, em Janeiro de 2021, um tribunal da Relação turco cancelou também a primeira absolvição.
Kavala liderava uma organização que promovia a colaboração cultural entre diversas minorias no campo das artes e estava associado à filial turca da fundação do multimilionário americano George Soros.
Em Dezembro de 2019, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos concluiu que a detenção de Kavala era ilegal e que se destinava apenas a castigá-lo como crítico do Governo, tendo ordenado a sua libertação imediata para ficar a aguardar julgamento em liberdade.
Ancara ignorou essa decisão, pelo que o Conselho da Europa ameaça agora iniciar um processo disciplinar contra o país.
O caso Kavala tem sido emblemático de como o governo turco pressiona e intimida opositores e críticos.
O Presidente turco Recep Tayyip Erdogan frequentemente chama a Kavala o “Soros vermelho da Turquia”.
Se for considerado culpado dos crimes de que é acusado, Osman Kavala arrisca-se a uma pena de prisão perpétua.
Ouça aqui a correspondência de José Pedro Tavares.
Correspondência de José Pedro Tavares 19 10 2021
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro