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Haiti

Haiti: estado de emergência e recolher obrigatório na capital

Port au Prince – O governo haitiano decretou neste domingo o estado de emergência e um recolher obrigatório para retomar o controlo da capital, após a fuga de milhares de reclusos durante um ataque de grupos armados a uma cadeia que se traduziu na morte de pelo menos dez pessoas.

A insegurança e a contestação ao governo apoderaram-se da capital haitiana, Port-au-Prince, aqui a 1 de Março de 2024.
A insegurança e a contestação ao governo apoderaram-se da capital haitiana, Port-au-Prince, aqui a 1 de Março de 2024. © Ralph Tedy Erol / Reuters
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O professor haitiano Rafael Lucas admite que a situação está, mesmo, caótica num contexto de redução dos efectivos do exército.

"A situação está mesmo caótica. Por trás desse caos, há uma lógica no fundo. É que entre os anos 60 [do século XX] e os anos 2020, os governos desmantelaram quase o Exército. Só sobrou uma força reduzida de uns 5000 homens. Só que no tempo de Toussaint Louverture, quer dizer, em princípios do século XIX, o exército haitiano contava 20.000 homens. Em 1840 esta cifra tinha ascendido a 40 000 homens. Então 40.000 homens em 1840 e 5 000 hoje, para impor a ordem numa população de 10 milhões de habitantes, quer dizer, torna se uma missão impossível."

Questionado sobre o papel que a comunidade internacional poderia ter, num contexto em que o Quénia era suposto vir a comandar uma força de polícia que ainda não chegou ao terreno Rafael Lucas lembra os debates que tal dispositivo suscitou também no Quénia.

"Houve imensos debates entre a decisão presidencial e os ataques do parlamento queniano e do Conselho Constitucional queniano. Quer dizer, as instituições locais de controlo das decisões políticas mobilizaram se contra essa decisão, porque todos sabem que uma intervenção militar no Haiti vai ser outro caos e haverá muitos mortos. Quer dizer, vai lembrar a intervenção desastrosa dos Estados Unidos, antigamente na Somália."

Desde a morte do presidente Juvenel Moise, a situação nunca estabilizou no Haiti e, por ora, a comunidade internacional assiste impassível ao degenerar da situação. Segundo Rafael Lucas a situação veio a piorar.

"Piorou porque Jovenel Moïse queria pelo menos duas coisas: diminuir o preço da electricidade e da água e, por outra parte, empreender imensas iniciativas para infraestruturas. Acontece que a electricidade e a água são presas dos outros lóbis que não querem que o preço dessas necessidades se reduza. Querem manter um preço vantajoso para eles, mas catastrófico para a população pobre. No fundo, querem que Port au Prince seja uma espécie de fortaleza feudal e que mantém a desigualdade e o desequilíbrio no país."

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