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"Quero devolver a esperança aos são-tomenses"

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Carlos Vila Nova é candidato da ADI às eleições presidenciais de São Tomé e Príncipe marcadas para 18 de Julho e nas quais concorrem 19 candidatos. Em entrevista à RFI, o candidato diz querer "devolver a esperança aos são-tomenses".

Carlos Vila Nova candidato às eleições presidenciais em São Tomé e Príncipe, apoiado pelo partido ADI.
Carlos Vila Nova candidato às eleições presidenciais em São Tomé e Príncipe, apoiado pelo partido ADI. © Carlos Vila Nova
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RFI: A sua candidatura esteve envolta em alguma polémica. O senhor afirmou que se apresentou como candidato independente e só mais tarde recebeu o apoio do partido ADI. Outra versão diz que a sua candidatura foi apresentada pelo líder do partido. Qual é a origem da sua candidatura?

Carlos Vila Nova: A minha candidatura é independente, pessoal. Eu fiz um pedido oficial ao partido ADI, partido com o qual tenho a aproximação e alguma militância, e quando me foi dado o apoio foi dado na pessoa do líder do partido. Portanto, pode ser que haja aí o motivo de alguma alguma confusão. Esse apoio é dado dias depois da apresentação da minha candidatura, oficialmente na pessoa do presidente do partido. 

Nesta eleição há outros candidatos que vêm da fileira do ADI. A sua candidatura não é consensual?

Eu não veria as coisas assim. A partir do momento em que eu faço um pedido eu faço-o, colocando-me acima dos partidos políticos, a um partido que tem uma máquina partidária, uma estrutura que possibilita uma maior penetração junto do eleitorado. Se outros o fizeram, também estavam no seu direito, também tinham o objetivo de obter apoio. Mas como compreenderá, não me cabe a mim definir quem o partido vai ou não apoiar. Pelo facto de ter sido eu honrou-me muito e, no devido momento, agradeci à direção do partido e tenho-o feito junto do eleitorado.

O presidente da ADI pediu união de esforços em torno da sua candidatura para impedir aquilo que considera ser “a consolidação de um poder absolutista”. Foi para evitar esse cenário que decidiu candidatar-se ao cargo de chefe de Estado?

Sim, também. Mas preocupa-me bastante o presente e o futuro de São Tomé e Príncipe. No presente, pelas vivências dos últimos anos, era preciso que uma candidatura se revelasse contra esse estado de coisas a fim de encontrarmos formas de devolver, de certa forma, a esperança aos cidadãos e cidadãs são-tomenses.

Que política vai apresentar ao povo de São Tomé e Príncipe e à diáspora?

A política principal é contar com as pessoas, porque elas contam. Um Presidente é um árbitro, o garante da unidade nacional,  baseado nas leis da Constituição da República, e ele tem que olhar para todos de igual forma.

É preciso encurtar a distância com a diáspora e isto passa por um trabalho junto dos parceiros, sejam eles tradicionais ou novos parceiros bilaterais e multilaterais. Há um mal que aflige, e pode ser o motivo da aproximação entre os são-tomenses, que é a questão da saúde.

Muitos dos nossos cidadãos encontram-se a viver em países estrangeiros, sobretudo Portugal, e por razões de saúde não têm possibilidade de regressar. Melhorando essa situação, eu acho que estaríamos a fazer um grande trabalho a favor da diáspora, aproximando as pessoas e trazendo de volta aquelas, que por razões de saúde, se encontram fora.

Quanto à  Ilha do Príncipe, olharei com muita atenção para os aspectos da dupla insularidade e encurtar as distâncias geográficas. Farei o meu melhor para que tudo quanto sejam os recursos disponíveis, reflectir nos projectos apresentados pelo governo, se traduzam em melhorias visíveis para as populações, quer seja na diáspora, quer seja no Príncipe.

O abuso sexual, a violência doméstica, o consumo de droga e a corrupção são flagelos que atingem cada vez mais o país. O senhor defende que este problema só se resolve com uma reforma profunda da Justiça. Qual é que é essa a proposta?

Defendo que a Justiça, de alguma maneira, é o denominador comum de muitos dos problemas que temos para resolver. Estes flagelos também encontrarão firmeza, por parte das autoridades no combate e na resolução, através de uma reforma profunda da Justiça. E essa reforma vai fazer-se com engajamento de todas as instituições, sobretudo os órgãos de soberania.

E eu, como Presidente da República, irei promover o diálogo necessário para que haja engajamento e uma reflexão profunda nas reformas que têm de ser feitas. Esta reforma terá que envolver todos os organismos, que de uma maneira ou outra lidam com a questão da Justiça. Serão os Tribunais, o Ministério Público, as polícias, os centros de registo e identificação, a Ordem dos Advogados, os estabelecimentos penitenciários. Todos estes estabelecimentos, de alguma maneira, precisam de estar envolvidos nessa reforma, quer seja através de formação, quer seja com a instalação de equipamentos modernos e adequados.

Não descuro uma campanha forte de sensibilização no caso dos abusos sexuais de menores, porque é preciso conhecer as motivações. Não pode ser um combate apenas com base no que são as penalizações previstas na Justiça, mas também perceber o fenómeno pelo qual há atração para se aproximar de inocentes e praticar actos que envolvem a consciência das pessoas.

São Tomé e Príncipe é considerado como um dos países mais pobres do mundo e também como um dos mais endividados, sendo que 50% do Produto Interno Bruto é assegurado pela comunidade internacional. Uma situação que se agravou com a pandemia da Covid-19. Que papel deve exercer o chefe de Estado para reduzir esta dependência?

Este é um papel no qual o chefe de Estado deverá colaborar com as autoridades do país, sobretudo na procura e captação de investimentos, para que esses investimentos gerem riqueza e criem retorno. Esse retorno deve servir para pagar as dívidas. [São Tomé] É um país endividado, já é um facto consumado, agora é preciso lidar com a questão.

A economia de São Tomé e Príncipe não é uma economia suficientemente dinâmica, que permita por si só resolver os problemas, mas a verdade é que também não podemos continuar eternamente dependentes da ajuda externa e daquilo que é a boa vontade dos outros países.

Hoje, os países cada um tem os seus problemas, a solidariedade prevalece, na medida do possível, entre alguns países, mas ela não pode ser uma situação eterna. Fala-se muito da diplomacia económica, é verdade, ela será enquadrada dentro daquilo que a diplomacia e o serviço das relações externas em geral, onde o Presidente da República tem um papel activo, directo. É um sector partilhado entre o presidente e o governo, eu entendo que estas duas instituições deverão trabalhar no sentido de redefinir a política externa, captando investimentos estrangeiros, melhorando a qualidade de vida das pessoas e pagando também as dívidas.

Em São Tomé e Príncipe praticamente todos os poderes estão na mão do primeiro-ministro, se for eleito chefe de Estado a sua presidência será marcada pelas boas relações com o chefe do Executivo?

Eu acho que teremos todos a ganhar, mantendo relações boas, porque o país terá que estar em primeiro lugar. Não vale a pena criarmos querelas inexistentes. Sabemos que a Constituição de São Tomé e Príncipe é assim. É assim que nós devemos olhar para ela, que devemos trabalhar, sem usurpar competências de qualquer órgão, em perfeita colaboração.

Mas eu não hesitarei, a partir do momento em sentir que estão em causa as condições que prejudiquem a vida das populações e a vida do povo, em ouvir, em chamar e contribuir com o governo para que se resolva e possa melhorar as condições de vida das pessoas.

Acredita que vai ser o próximo presidente de São Tomé e Príncipe?

Acredito, a razão que me move é forte. É um sentimento de partilha, solidariedade, reposição dos valores, um combate contra um inimigo comum que é a pobreza. Os meus adversários não são meus inimigos, nem quero vê-los como adversários, vejo-os como outras pessoas que também terão, de alguma maneira, objetivos próprios para São Tomé e Príncipe neste combate. Os meus inimigos serão os problemas sócio-económicos, que nós temos, e que temos que resolver. Esses problemas encontraram em mim uma capacidade de trabalho e uma forma firme de ultrapassar esses problemas e de melhorar as coisas em São Tomé e Príncipe.

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