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São Tomé e Príncipe passa a sequenciar genoma da Covid-19

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São Tomé e Príncipe começou esta semana a realizar testes em laboratório que vão permitir fazer a sequenciação do genoma do Covid-19 no país, os primeiros resultados devem ser conhecidos esta quarta-feira. A informação foi confirmada pelo ministro da Saúde, Edgar Neves, que disse ainda estar contra o projecto que prevê o cultivo de cannabis para fins medicinais em São Tomé.

Edgar Neves, ministro da Saúde de São Tomé e Príncipe.
Edgar Neves, ministro da Saúde de São Tomé e Príncipe. © RFI
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RFI: Qual é o ponto de situação da Covid-19 em São Tomé e Príncipe?

Edgar Neves: Neste momento nós temos a situação epidemiológica considerada como estável já há oito semanas. Quer em São Tomé quer na região autónoma do Príncipe, há quase dois meses que não temos nenhum internamento no hospital de campanha. Temos tido doentes na enfermaria de sintomáticos respiratórios, mas felizmente situações que não são graves. A taxa de recuperação também é bastante boa, estamos acima dos 95%, isto dá-nos algum conforto, entre aspas, embora estejamos extremamente preocupados com as próximas semanas.

Receia uma terceira vaga de Covid-19 no país?

Nós estamos a prepararmo-nos, a nossa equipa, sempre pensando que pode chegar uma terceira vaga. Vamos continuar no período eleitoral com uma grande aglomeração de pessoas sem máscara, a higienização das mãos tem sido mínima. Há todas as questões estabelecidas para que haja um aumento de casos. Estamos também a aumentar a frequência de voos, o que aumenta a probabilidade de casos, com o aumento da capacidade de testagem. A variante Delta atingirá o mundo inteiro e, provavelmente, São Tomé e Príncipe não estará isento.

 

São Tomé e Príncipe está a reforçar a capacidade de testagem?

Na testagem dois aspectos: eu refiro-me aos testes PCR e aos testes rápidos antigénicos. No laboratório aumentámos a capacidade dos PCR por termos adquirido um equipamento que nos permite quase duplicar o número de testes. Quanto aos testes rápidos, também temos recebido em quantidade satisfatória, permitindo-nos fazer um rastreio mais alargado nos quartéis, nas escolas, nos centros de saúde e na região autónoma do Príncipe.

Por dia, quantos testes são realizados?

Podemos atingir até aos 300 testes PCR, os testes antigénicos podem ser realizados nos centros de saúde e no laboratório central. Agora os testes rápidos vão aumentar ainda mais, na medida em que é possível a entrada em Portugal com um teste rápido. Muitos viajantes vão começar a fazê-los por duas razões: o tempo de espera é menor e os custos também.

Este reforço de testagem permite ao país aumentar o número de voos?

Sem dúvida, isto é um binómio quase incontornável. À medida que aumentamos a capacidade de testagem, que é o que estamos a fazer, são permitidos mais voos, aumentando a frequência quer para a Europa, através da TAP ou da STP Airways, como os voos para a região africana. É uma faca de dois gumes, nós precisamos de alimentar a economia, mas também aumentam os riscos de entrada e de contaminação.

Não há outro caminho a seguir que não seja o da vacinação, que é o que o mundo inteiro está a fazer.

Como é que está a correr o processo de vacinação?

O processo de vacinação está a correr bem. Foi feito um trabalho intenso ao nível da sensibilização e de informação para a mudança de comportamentos, com os nossos parceiros, nomeadamente a Organização Mundial de Saúde e a Unicef, no sentido de fazer com que as pessoas aderissem sem receio.

De quantas vacinas é que São Tomé e Príncipe ainda precisa para atingir a imunidade de grupo?

Para vacinar mais de 150 mil pessoas seriam necessárias 300 mil doses. Numa primeira fase o objectivo é vacinar 20% da população e numa segunda fase vacinarmos mais 50% da população, o que corresponderia mais ao menos a esse número, permitindo alcançar a imunidade de grupo.

Se não tivéssemos falhas na recepção poderíamos atingir a imunidade de grupo até ao primeiro trimestre de 2022. Se tudo correr bem será possível vacinar 70% da população antes dessa data, ou seja, primeiro semestre de 2022.

Queria ainda anunciar que para além do aumento da capacidade de testagem, nós começámos esta semana, a fazer ensaios em laboratório para fazermos [em São Tomé] sequenciação do genoma. Acredito que esta semana já teremos os primeiros resultados para podermos conhecer as variantes [que circulam no país] com maior rapidez. isto vai  permitir-nos também, em termos de organização estrutural, agir com maior rapidez.

Qual é a sua posição sobre o projecto que prevê o cultivo de cannabis para fins medicinais em São Tomé.

Eu conheço os benefícios da cannabis para fins medicinais, já procurei documentar-me da melhor forma possível a esse respeito. Do ponto de vista da economia pode ser uma fonte de rendimento, mas é preciso colocar tudo isso dentro da nossa realidade.

A partir deste ano o Instituto da Droga e Toxicodependência passou a estar sob a tutela do ministério da Saúde, estamos a ver o consumidor como um doente e não como um traficante.

Neste sentido, conhecemos bem as nossas fraquezas de poder gerir com rigor o controlo de tudo isto, este é o grande risco. Nas condições actuais que temos, onde o consumo está a aumentar- temos uma população essencialmente jovem- a nossa capacidade de controlo e vigilância neste momento, quanto a mim, não nos permite avançar para um projecto desta natureza. 

No dia em que tivermos as condições, controlo e segurança devidamente preparados, aí pode-se pensar na plantação de cannabis para fins medicinais. Enquanto isso, eu pessoalmente discordo, porque os riscos são muito maiores do que os benefícios.

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