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Isabela Figueiredo apresenta “Carnet de Mémoires Coloniales” em Paris

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Isabela Figueiredo escreve para denunciar injustiças, procurando a liberdade de dizer o que em tempos não teve coragem de fazer. A escritora portuguesa voltou ao passado para escrever memórias que a marcaram e que a tornaram numa mulher "determinada, justa e bondosa", como se descreve.

Isabela Figueiredo, autora do livro "Caderno de Memórias Coloniais".
Isabela Figueiredo, autora do livro "Caderno de Memórias Coloniais". © RFI/Lígia Anjos
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A primeira tradução para francês da escritora “Carnet de Mémoires Coloniales” chega às livrarias francesas esta quinta-feira, 30 de Setembro, numa altura em que Isabel Figueiredo foi nomeada para o Prémio Femina Estrangeiro 2021.

Isabela Figueiredo nasceu em Moçambique, mudou-se para Portugal na década de 1970, no fim da ditadura salazarista e na iminência da independência de Moçambique. Foi jornalista, mas optou pela carreira de professora de língua portuguesa.

Lançou em 2009 o primeiro livro, "Caderno de Memórias Coloniais", um acerto de contas com o passado colonial de Portugal. Uma obra publicada este mês em francês na Editora Chandeigne “Carnet de Mémoires Coloniales”  apresentado quinta-feira, 30 de Setembro, pelas 19 horas, na livraria “La petite Égypte”, em Paris.

Isabela Figueiredo
Isabela Figueiredo, autora do livro "Caderno de Memórias Coloniais".
Isabela Figueiredo, autora do livro "Caderno de Memórias Coloniais". © RFI/Lígia Anjos

Em entrevista à RFI, Isabel Figueiredo apresenta-se como "uma mulher sozinha, uma mulher que tem medo das relações com os outros. Sou uma mulher bondosa que tem bom coração, que gosta de animais e de uma vida simples, que gosta muito, muito de arte, mas que tem um pouco medo das pessoas".

Um medo que advém de um percurso que a conduziu à escrita, à tomada da palavra e a levantar uma voz determinada para denunciar injustiças."Cheguei a um ponto do percurso em que já posso dizer isto: tenho medo das pessoas, quero estar sozinha, quero uma vida simples, deixem-me em paz! No passado não diria isto, digo-o agora porque tenho coragem e idade para o dizer. [Durante muito tempo] não conseguimos, nem eu nem ninguém, dizer isto porque estamos a levar com a vida em cima, porque estamos a levar tareia da vida".

A escrita de "Caderno de Memórias Coloniais" foi "uma urgência", explica-nos a autora. "Foi difícil, sim, foi muito difícil reviver essa memória, mas foi absolutamente necessário para continuar e para enfrentar a memória do meu pai, que precisava de manter em mim porque tenho um amor por ele", acrescenta.

Quanto à relação com o pai, este livro foi uma forma de integrar a relação e o amor pelo pai, como explica: "o que faço no livro é dizer-lhe tudo aquilo que eu senti na altura e que disse, mas quando falava causava conflito e guerra entre nós [eu e o meu pai] e optei por me calar muitas vezes. Agora que ele está caladinho e que não pode responder, pode apenas ouvir, disse-lhe com violência, mas também com muito amor aquilo que precisava de ser dito para que o nosso amor continuasse para sempre".

Isabela Figueiredo reconhece que teve a capacidade de exprimir injustiça e violência através da escrita. "Faço-o para comunicar com os outros, para poder mostrar aos outros o que vejo porque quando o faço os outros reconhecem, e esse reconhecimento é uma forma de terapia. A arte tem esse lado".  

Quando se fala em colonialismo, muitas pessoas não querem ter voz, admite a escritora. "Em Portugal não se quer falar do passado colonial é um assunto muito difícil de aceitar porque a nossa auto-estima portuguesa está muito relacionada com a gloria dos descobrimentos e não com a parte sombria dos descobrimentos". 

Isabela Figueiredo foi nomeada para o Prémio Femina Estrangeiro, um dos prémios mais importantes literários franceses, com o livro “Carnet de mémoires coloniales”.

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