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400 anos depois, Molière continua “muito actual”

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Este sábado, o mundo do teatro celebra os 400 anos do nascimento de Molière. O actor Lionel Cecílio, que interpretou várias personagens molierescas, sublinha que se trata de um dramaturgo “muito actual” e que há textos que parecem ter sido escritos “na semana passada”. De que é feita a imortalidade dos seus textos e o que tornou intemporais as suas personagens?

Lionel Cecílio. Paris, 9 de Dezembro de 2021.
Lionel Cecílio. Paris, 9 de Dezembro de 2021. © Carina Branco/RFI
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É um autor do século XVII que continua a fazer rir e reflectir. Em 2022, o mundo do teatro celebra os 400 anos do nascimento de Molière e o pontapé de saída começa este sábado, 15 de Janeiro, data de baptismo de Jean-Baptiste Poquelin, que ficou para a história como Molière.

O actor Lionel Cecílio, que interpretou várias personagens molierescas, avisa que os textos do dramaturgo seiscentista podem abrir os olhos dos eleitores que vão votar nas presidenciais de Abril em França.

De que é feita a imortalidade dos seus textos e o que tornou intemporais as suas personagens? Talvez seja a imersão na própria "natureza humana” através de arquétipos que continuam a encontrar correspondência nas pessoas que somos, vemos, ouvimos e lemos. É, também, certamente, a pertinência do retrato das “lutas de poder entre poderosos e entre classes”. É, ainda, a capacidade de transcrever uma “história social” com uma língua que todos compreendem, directa ou indirectamente, “a língua de Molière”. Estas são algumas das hipóteses levantadas por Lionel Cecílio que trabalhou em três peças de Molière, “Médico à Força”, “As Artimanhas de Scapino”e “O Doente Imaginário”.

“É verdade que o texto parece longe de nós porque é um texto em francês clássico, com expressões que já não usamos, mas o fundo do texto é muito actual. É muito actual na maneira de criticar o poder, as personagens de poder - seja um rei na época de Molière ou um Presidente com ares de rei agora nesta V República francesa. Há muitas coisas actuais. Parece que ele escreveu isso na semana passada”, afirma o actor franco-português.

Lionel Cecílio recorda que Molière “compreendeu directamente e muito bem o que é a natureza humana” e essa é “a chave de uma escrita que pode ficar no tempo, que pode ficar universal e intemporal” porque o público de qualquer época é “capaz de se identificar com as personagens”.

“Ele está a criticar as lutas que há entre os poderosos e os que não têm poder e isso é universal. Ontem era a Igreja e hoje é o capitalismo, mas o nome não tem importância. O que é importante é onde a luta nasce e cresce. É aí que ele percebeu bem a natureza humana, é desse combate universal, intemporal entre os poderosos e o resto.”

E se a língua francesa é conhecida como “a língua de Molière” é porque o dramaturgo conseguiu criar obras que “dão a impressão de serem escritas com palavras do povo” e, ao mesmo tempo, “têm a beleza de um texto mais erudito”.

“Tens uma peça que critica os poderosos com, na sala de teatro, poderosos sentados ao pé de não poderosos e a rirem ao mesmo tempo da mesma peça. Isso foi o grande talento de Molière”, acrescenta Lionel Cecílio.

Oiça aqui a entrevista a Lionel Cecílio, realizada no âmbito de uma série de reportagens que vamos publicar a propósito dos 400 anos do nascimento de Jean-Baptiste Poquelin, universalmente conhecido como Molière

11:02

Os ecos de Molière em Lionel Cecílio

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