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Mali em situação "complexa" com a junta militar a "falhar completamente" no combate ao terrorismo

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As forças francesas da operação Barkhane abandonaram esta semana o Mali após quase 10 anos de presença gaulesa. Rui Neumann, jornalista e membro do Observatório Político em Lisboa e do Institut de Relations Internationales et Stratégiques em Paris, antecipa uma situação "complexa" para este país actualmente liderado por uma junta militar "que está a falhar na gestão do país".

O exército maliano foi formado durante vários anos pelas forças francesas e outras forças estrangeiras.
O exército maliano foi formado durante vários anos pelas forças francesas e outras forças estrangeiras. © AFP/Souleymane Ag Anara
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"Para o Mali vai ser uma situação de grande complexidade apesar de a junta militar, chefiada pelo coronel Assimi Goïta, estar a seguir uma linha de conduta de certa forma devido à nova parceria com a Rússia, mas também a seguir a vontade popular. O Mali nestes dois últimos golpes de Estado desenvolveu um fenómeno de populismo e uma radicalização da opinião pública que também empurraram a França para fora do território maliano", disse Rui Neumann.

Após quase 10 anos de intervenção no terreno, os terroristas que em 2013 ameaçavam Bamako espalharam-se a outros países, fixando-se no Norte do país e também no Niger, no Burkina Faso, no Benim, no Gana, Togo ou Costa do Marfim. Esta nova geografia vai levar a uma adaptação da presença francesa no Sahel, que apesar de já não estar no Mali, vai continuar a combater os jihadistas.

"A operação Barkhane vai ter de rever completamente a sua forma de operacionalidade porque estava concentrada, o epicentro deixa de ter sentido já que estava no Mali. A França certamente que já redefiniu a nova estratrégia, Emmanuel Macron já tinha dado sinais desta nova doutrina, ou seja entrar uma segunda cintura de combates com estes insurgentes", explicou o jornalista.

Assim, mais do que soldados na região, a França vai possilvemente optar por mais ataques aéreos e operações de informações, movendo os seus militares para o Niger, Chade e Burkina Faso.

Ao mesmo tempo, a situação no Mali é instável com Rui Neumann a duvidar da capacidade das tropas malianas de enfrentarem a ameaça terrorista sozinhas já que têm pela frente jihadistas "extremamente experientes". Quanto à situação social, Rui Neumann diz que a situação de aparente apoio popular à junta pode mudar, especialmente se os malianos não tiverem melhorias a nível económico e se sentirem seguros, podendo originar assim um novo golpe de Estado.

"Tanto o Presidente como o Governo maliano estão a falhar completamente nesse combate e, por vezes há um efeito boomerang, ou seja, a população apoia de uma forma quase radical a coragem da junta militar de expulsar a França, mas quando a mesma junta não responde às situações concretas quer sejam económicas ou de segurança, isso pode levar ao regresso do boomerang e resultar num golpe de Estado", indicou.

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