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São Tomé e Príncipe: "Uma pessoa não vai para um golpe de Estado de calção e chinelo"

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Isaac era dançarino, participou em publicidades da CST, a Companhia Santomense de Telecomunicações, e participou também nos acontecimentos de 25 de Novembro. Isaac integra a lista de vítimas mortais do ataque ao quartel do Morro. Ao microfone da RFI, a família falou de um filho "preocupado e excelente” e apelou a que se faça justiça. 

Fotografia de Isaac, uma das vítimas mortais do ataque ao quartel do Morro, no telemóvel do seu pai.
Fotografia de Isaac, uma das vítimas mortais do ataque ao quartel do Morro, no telemóvel do seu pai. © Cristiana Soares
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Isaac era dançarino, participou em publicidades da CST, a Companhia Santomense de Telecomunicações, e participou também nos acontecimentos de 25 de Novembro. Isaac integra a lista de vítimas mortais do ataque ao quartel do Morro. Mas não são as imagens de Isaac que continuam a passar na televisão nacional que agora preenchem os dias da família.

Eleutéria, a actual mulher e a mãe do filho mais novo de Isaac, garante que o marido “não ia fazer uma coisa dessas”. Não acredita que se tratou de uma tentativa de golpe de estado e pede justiça “nós queremos justiça, saber o que na realidade aconteceu com todos eles. O que que aconteceu?”.

Quem também não acredita na versão das autoridades é Eulália, a mãe de Isaac. Sublinha as dificuldades para procurar justiça e, ao microfone da RFI, lembrou o filho "preocupado e excelente” que diariamente, ao meio-dia, passava no trabalho da mãe.  

"Como é possível terem entrado no quartel? Têm de ter ‘cabeceiro’ lá dentro. Não levaram armas… uma pessoa não vai para um golpe de estado de calção e chinelo. (...) O meu filho era excelente. Eu trabalho no comando da polícia e ele todos os dias, às 12h00 passava lá. Perguntava: ‘mamãe já comeu, já almoçou, já tomou o pequeno-almoço? Era muito preocupado. Ainda estou aqui sem trabalhar porque quando voltar a trabalhar, às 12H00 ele não vai aparecer.

Osvaldo Afonso é um pai de olhar triste que soube pelas redes sociais da morte violenta do filho, sem forças e de coração carregado de dor, diz que entrega a justiça nas mãos de Deus.

Um advogado é um pouco difícil, porque os advogados, hoje em dia, exigem um salário, uma coisa que nós temos como pagar. Não temos condições. Para mim, a minha justiça é entregar na mão de Deus. Só Deus pode fazer justiça.

A 25 de Novembro, de acordo com as autoridades, quatro civis tentaram atacar o quartel militar de São Tomé. Quatro pessoas foram torturadas e mortas, com vídeos dos actos a circularem na internet.

Há dois processos de instrução preparatória em curso, um que investiga o assalto ao quartel, e conta com 17 arguidos, e outro para investigar a tortura e mortes ocorridas nas instalações militares. Até ao momento, a Procuradoria-Geral da Republica não detalhou o número de detenções, interrogatórios ou prisões no processo por homicídio e tortura. 

No início da Semana, o representante regional do Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos na África Central, Nouhoum Sangaré, em entrevista à RFI tinha sublinhado a “incompreensão total por não terem sido interrogadas nem detidas as pessoas que torturaram até a morte, cujos rostos são perfeitamente visíveis nas fotografias e vídeos, não tenham sido interrogadas nem detidas. A maioria ainda continua no posto a exercer as suas funções.”

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