A pandemia de covid-19 em África impediu o acompanhamento de outras doenças como a tuberculose ou HIV, privando também muitas crianças de serem vacinadas. Um impacto terrível, segundo a ex-ministra guineense Magda Robalo e da qual o continente ainda está a recuperar.
Magda Robalo, antiga ministra da Saúde da Guiné-Bissau e alta-comissária para a Covid-19 neste país entre 2020 e 2021, esteve em Paris para participar no Fórum da Paz, um encontro organizado pela França de forma a encontrar formas pacíficas de resolver conflitos no Mundo.
A actual presidente da ONG Instituto para a Saúde Global e Desenvolvimento participou num debate sobre a criação de sistemas de saúde resilientes face à pandemia e em entrevista à RFI Magda Robalo, que é também médica, disse que a humanidade ainda está chocada com o que se passou na covid-19 e que se pensava que esta pandemia iria "desaparecer".
"Com a pandemia da covid-19, pensava-se no início que o continente africano ia desaparecer porque não tinha as condições para fazer face a uma pandemia desta natureza e pensava-se que o epicentro desta pandemia seria no continente africano e acabámos por ver que era uma pandemia diferente, que atingia grupos etários com condições de risco diferentes e acabou pro destruir essa narrativa",
No entanto e mesmo se África não foi o continente onde morreram mais pessoas devido à covid-19, esta foi uma doença "terrível" já que teve impacto nos tratamentos de outras doenças como a tuberculose ou o HIV.
"A pandemia no continente africano acabou por ser terrível quando fazer uma estimativa para além do número de casos de morte por covid-19, quando estimamos a mortalidade de forma alargada vemos que o continente africano teve taxas de mortalidade muito elevadas. Isto porque os sistemas de saúde não conseguiram responder, as medidas que foram tomadas de encerramento de escolas e toda a actividade social e comercial colocaram muita gente fora do alcance dos sistemas de saúde num continente em que há muitos poucos recursos a nível de centros de saúde e tecnicos de saúde que foram todos mobilizados para a covid-19 e ninguém conseguiu responder à tuberculose, ao HIV, à hipertensão, à vacinação das crianças"
Quanto às necessidades da saúde na Guiné-Bissau, a ex-governante diz que é preciso "uma reforma profunda" neste sector que permita uma projecção a médio e a longo prazo.
"O que é preciso para estabilizar o sistema de saúde e educacional na Guiné-Bissau é uma reforma profunda, mas a reforma tem de ser feita com uma grande reflexão, com ideias inovadoras e com uma ambição muito maior do que aquela que temos tido, a nossa ambição não tem estado à altura das necessidades e vamos tapando buracos. É preciso regulamentar os sectores, o que eu tentei enquanto ministra da Saúde foi regulamentar o sector dos medicamentos. A Guiné-Bissau não conhece a proveniência dos medicamentos que se vendem no mercado, a sua qualidade, portanto era importante regulamentar esse sector. E isso era uma porta de entrada para melhorar os serviços, já que quando a pessoa toma um medicamento de qualidade, melhora a qualidade dos serviços prestados", explicou.
Também reformas na educação são necessárias, algo que só se vai conseguir alcançar com estabilidade política no país.
"É preciso repensar a forma como formamos os nossos médicos, os nossos enfermeiros e parteiras, credibilizar a formação dos nossos técnicos de saúde, credibilizar o ensino e precisamos de professores de qualidade. Há todo um trabalho de regulamentação a fazer e que não vai de mão dada com sobressaltos na governação. É preciso uma certa estabilidade para se conseguir isto", concluiu.
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