Nesta terça-feira, 22 de Dezembro, os diários franceses estão centrados na nova variante da Covid-19.
«Covid N501Y, o Convidado Surpresa do Natal», eis o título na primeira página do diário de esquerda «Libération». Apesar de não ser mais grave do que a Covid-19, a nova variante da doença, detectada no Reino Unido, parece ter uma propagação mais rápida, e talvez até já circule em França, alerta o jornal.
Nunca uma nova variante de um vírus terá provocado um pânico tão grande como ocorreu nestes últimos dias. As preocupações ? Que esta nova variante seja mais virulenta. Apesar de haver dúvidas quanto a essa hipótese, o que é certo é que os testes PCR não serão tão eficazes visto que a proteína Spike desapareceu nessa mutação, mas os pesquisadores asseguram que há outros indicadores que poderão ajudar a detectar a doença. A má notícia que vem contradizer isto tudo é que no Reino Unido, houve falsos negativos devido a essa mutação do vírus.
«Devemos ter medo da mutação do vírus?», é este o principal título do diário comunista «L’Humanité». Segundo o jornal esta variante é entre 40 a 70% mais contagiosa, tendo sido descoberta em Setembro. Poderia ter sido uma mutação como qualquer outra, no entanto o facto de ser muito mais contagiosa preocupa as autoridades britânicas. 62% das contaminações no mês de Dezembro foram devido à nova variante do vírus. Para lutar contra a propagação da nova versão da Covid-19, os Estados europeus decidiram… fechar as portas aos voos provenientes do Reino Unido.
No diário popular «Aujourd’hui en France», o destaque vai para a vacinação europeia: «Semáforo verde para a vacinação na Europa».
A Agência Europeia dos medicamentos deu a sua autorização para o início da vacinação com a vacina Pfizer-BioNTech. O diário avança, aliás, que a vacina, a priori, poderá ser também eficaz perante a mutação da Covid-19.
Segundo Emer Cooke, director geral da Agência Europeia dos medicamentos, «nada até ao momento sugere que a vacina não seja eficaz contra o novo vírus».
Segundo os especialistas, a vacina dá uma imunidade de três a seis meses, no entanto é uma nova arma que chega no momento certo segundo Etienne Decroly, perito nos vírus no CNRS - Centro Nacional da Pesquisa Científica.
Criado em apenas mais de oito meses e com uma eficácia a rondar os 95%, esta vacina vai sobretudo permitir evitar uma ‘quarta vaga’ em França visto que o efeito não será imediato. A vacina tem de ter duas injecções com um intervalo de 21 dias entre as duas, e os primeiros anticorpos apenas aparecem após dez dias, um tempo de espera para evitar novas vagas.
A França começa a vacinação a partir de domingo. Nos Estados Unidos, refere o «Aujourd’hui en France», o futuro Presidente, de 78 anos, Joe Biden, já recebeu a sua primeira injecção.
Em destaque no conservador «Le Figaro» encontramos a República Centro-Africana que «cai na violência em véspera de eleições gerais». Para o diário, atrás do actual Presidente, soldados ruandeses e mercenários russos lutam contra uma nova rebelião.
As eleições gerais e o escrutínio presidencial deveriam ocorrer a 27 de Dezembro, no entanto com a violência a crescer, a oposição pede o adiamento do pleito.
Por enquanto a calma é aparente visto que os capacetes azuis e o Governo com o apoio ruandês e russo têm a situação controlada, mas até quando interroga-se um anónimo entrevistado pelo jornal para quem a maior dúvida é até quando os «Russos e os Ruandeses vão aceitar lutar, isto enquanto os militares centro-africanos não o fazem».
A República Centro-Africana também está em destaque no vespertino independente «Le Monde» com o título : «O país cai novamente na crise».
Para o jornal, Faustin-Archange Touadéra quer impor um «K.O.» aos seus adversários vencendo a Presidencial logo à primeira volta embora sem ser «incontestável». O Presidente, professor de matemática, fez o cálculo que uma vitória na primeira volta seria possível neste escrutínio.
No entanto, um problema surgiu a 3 de Dezembro quando a candidatura de François Bozizé, antigo Presidente, foi rejeitada pelo Tribunal Constitucional. A candidatura não corresponde às regras de «boa moralidade» inscritas no código eleitoral. Recorde-se que o antigo chefe de Estado foi deposto pelos rebeldes da Séléka em 2013 e ainda tem um mandado de captura internacional contra ele no seu país.
Uma situação complicada que a 17 de Dezembro teve mais um episódio, seis principais grupos armados juntaram-se para formar a Coligação dos Patriotas para a Mudança - CPC -. Esta coligação que no passado domingo afirmou que houve «muitos mortos e feridos nas suas fileiras», mas que «a população centro-africana tem de estar preparada visto que a coligação está a avançar inexoravelmente para a tomada de posse de todo o território».
O Governo reagiu com o apoio de cerca de 300 mercenários russos da Sociedade Wagner e de 900 soldados ruandeses que vêm ajudar o Exército da RCA e não se vão juntar à Minusca.
Por enquanto as eleições continuam marcadas para dia 27.
No diário católico «La Croix», Portugal está em destaque com o título: «Portugal chocado com o calvário de um migrante».
Os factos ocorreram a 10 de Março. Ihor Homeniuk chegou a Lisboa para trabalhar na agricultura. Com 40 anos, deixou a mulher e a filha na Ucrânia. 300 euros no bolso, mas não tem visto, no entanto um acordo entre os dois países permite-lhe ficar 90 dias em território luso. Vai ser detido no aeroporto de Lisboa pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, sendo que as razões dessa detenção são pouco claras. Ao fim de dois dias, o calvário do ucraniano acabou com a sua morte. Com a Covid-19, este incidente desapareceu rapidamente dos meios de comunicação, voltando à ribalta em Novembro. A Directora do SEF, Cristina Gatões, admitiu que o cidadão ucraniano foi torturado e demitiu-se em Dezembro.
Treze processos disciplinares estão abertos, três agressores de Ihor estão em prisão domiciliária, à espera do julgamento, e já houve quatro demissões no SEF.
Este episódio lembra as horas sombrias da ditadura de Salazar nos anos 70 e o Governo já decidiu avançar com uma reforma do SEF para reagir às críticas num país que se diz tranquilo e pacífico.
Para fechar no desportivo «L’Équipe» a manchete é acerca do início da NBA, o campeonato norte-americano de basquetebol, com a fotografia de Rudy Gobert. O atleta francês do Utah Jazz, assinou um contrato de 205 milhões de dólares em 5 anos, o que significa que vai passar a ser o desportista francês mais bem pago da história. Em letras garrafais, o jornal não deixa dúvidas quanto ao momento histórico que está a ocorrer: «Million Dollar Rudy».
REVISTA DE IMPRENSA 22-12-2020 MM
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