Artistas lusófonos expostos na feira de arte africana AKAA em Paris
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37 galerias participaram na edição 2023 da feira de arte contemporânea AKAA, entre elas a Perve e a Movart, com espaços em Lisboa e Luanda.
Desde a sua criação em 2015, a galeria Movart apresenta artistas luso-africanos. A galeria luso-angolana esteve presente na feira de arte contemporânea AKAA que decorreu no fim-de-semana passado, em Paris.
O trabalho do moçambicano Mário Macilau Circle of Memories é uma série de imagens que retratam a cidade de Maputo com imagens sobrepostas de crianças e mulheres no dia-a-dia. "Também apresentamos trabalhos de São Tomé e Príncipe de René Tavares e de Kwame Sousa", descreveu a directora da galeria, Janire Bilbao.
A artista angolana Keyezua teve trabalhos de escultura e fotografia expostos no AKAA. Keyezua criou um trabalho em 2018 sobre a crise migratória e outro projecto sobre deficiência física ou emocional. A artista angolana "fala de emigração porque ela também foi emigrante durante muitos anos nos Países Baixos, vivia na Holanda", conta Janire Bilbao.
"Fidel Évora é um artista de Cabo Verde e trabalhamos com ele há dois anos. Ele trabalha em serigrafia, faz o trabalho no computador, imprime-o e depois trabalhar por cima", descreve a directora da Movart.
A Perve Galeria esteve presente na feira AKAA e apresentou diferentes gerações, entre eles o moçambicano Ernesto Shikhani, o luso-moçambicano João Ayres, o escritor angolano José Eduardo Agualusa, o moçambicano Malangatana Ngwenya, a moçambicana Reinata Sadimba, a luso-moçambicana Teresa Roza d'Oliveira e ainda o escritor angolano Valter Hugo Mãe.
"Temos artistas de Portugal, Moçambique, Angola, artistas da diáspora ou artistas que nem puderam ter um estatuto diaspórico, artistas feministas", apresenta o director e curador da Perve Galeria.
Percorremos o stand C4 da Perve Galeria com Carlos Cabral Nunes que nos descreveu a cronologia dos trabalhos apresentados. O espaço começa "cronologicamente com o trabalho do João Ayres, artista pioneiro, que vai de Portugal para Moçambique. João Ayres torna-se moçambicano, regressa a Portugal depois da independência - porque é branco e nascido em Portugal. Ao voltar para Portugal é considerado um artista africano e em África considerado um artista europeu".
"O João Ayres e o Pancho Guedes são responsáveis pela descoberta do Malangatana, quando ele tem 16 anos e desenha a giz no chão. O Pancho dá-lhe um atelier, numa garagem, onde vai trabalhar. No final dos anos 50, o Malagatana realiza a primeira exposição. O Shikhani que era primo do Malagatana lê no jornal que o Malagatana vai fazer a sua primeira exposição e disse 'se ele pode eu também posso fazer'. Começou a ter coragem para mostrar as suas obras", lembra o curador.
Autores referenciais para Teresa Roza d'Oliveira, acrescenta o director da Perve Galeria, "a Teresa Roza d'Oliveira foi aluna do João Ayres, foi amiga e colega de percurso do Malangatana, do Shikhan, da Reinata".
"A Teresa Roza d'Oliveira e a Reinata são duas feministas que se emanciparam nos anos 70, lutaram pela independência do seu país e são espelho uma da outra. Ambas assumem a sua obra como algo fundamental na sua existência. A Reinata foi expulsa do grupo étnico Macondes por fazer arte, uma vez que o figurativo era permitido apenas aos homens. A vida da Teresa tornou-se impossível em Moçambique, de tal maneira que voltou para Portugal, porque se divorcia e assume a sua homossexualidade, nos anos 70. A vida dela tornou-se muito difícil", conta Carlos Cabral Nunes.
Foi ainda possível possível ver uns dos trabalhos que resultam da colaboração artística de José Eduardo Agualusa e Valter Hugo Mãe, dois nomes da cultura lusófona, da literatura, nascidos em Angola, que têm assinado trabalhos na fotografia e artes plásticas. "O Valter Hugo Mãe e o José Eduardo Agualusa são dois artistas na diáspora que não se assumem como artistas porque a vida deles é serem escritores. Eles fizeram 14 trabalhos originais e apresentamos duas fotografias do Agualusa", concluiu o curador.
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