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São Tomé e Príncipe

Evaristo Carvalho "resolvia divergências por via do diálogo"

Evaristo Carvalho, ex-Presidente de São Tomé e Príncipe, morreu na noite de sábado aos 80 anos de idade, vítima de doença prolongada. O antigo chefe de Estado são-tomense, no poder entre 2016 e 2021, era um histórico da política nacional, foi primeiro-ministro em governos de iniciativa presidencial, além de Presidente da Assembleia Nacional, ministro e deputado. O antigo chefe de Estado são-tomense estava internado num hospital em Lisboa.

Ex-presidente são-tomense, Evaristo Carvalho.
Ex-presidente são-tomense, Evaristo Carvalho. © Lusa
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O Governo decretou cinco dias de luto nacional para “prestar tributo” ao ex-presidente, considerado “figura ímpar do panorama político e da administração pública” do país.

Evaristo Carvalho era um histórico da política são-tomense. Começou por ser quadro do partido único - Movimento para a Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata (MLSTP-PSD) - após a independência e até ao início do multipartidarismo, na década de 1990. Foi chefe de gabinete de Miguel Trovoada quando este foi Presidente da República e aderiu a Acção Democrática Independente (ADI), partido que hoje é liderado por Patrice Trovoada.

Evaristo Carvalho foi eleito Presidente de São Tomé e Príncipe a 18 de Julho de 2016 e exerceu o mandato até 02 de Outubro de 2021, quando foi sucedido por Carlos Vila Nova.

Próximo do ex-presidente era Urbino Botelho, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, que ao microfone da RFI lembrou o estadista. 

Confesso que, para mim, não foi surpresa, porque durante os últimos tempos o Presidente Evaristo [Carvalho] confrontou-se com problemas de saúde sérios, foi submetido a algumas intervenções cirúrgicas, quer em Lisboa, quer aqui em São Tomé e Príncipe. Tinha uma saúde muito fragilizada, muito débil, fustigada por várias doenças. É sempre triste receber uma notícia da perda de alguém, sobretudo de uma pessoa de estatura como o Presidente Evaristo de Carvalho, uma pessoa com quem tive oportunidade e privilégio de colaborar, de lidar durante algum tempo e de quem eu tenho uma estima muito grande. Lamentamos todos os são-tomenses e acho que não estou a exagerar, porque foi uma pessoa que em vida soube lidar com todos.

Foi, de facto, uma pessoa muito reservada. Falava muito pouco, mas foi uma pessoa muito ponderada e conhecedora quer da administração colonial portuguesa, quer também do período após a independência. Desde o 25 de Abril que ele integrou o MLSTP-PSD e sempre esteve a acompanhar a vida política são-tomense e levou consigo um manancial da história deste país”. 

Como pessoa qual é a memória que guarda dele? 

Foi uma pessoa muito ponderada, muito afável, muito amiga dos seus amigos, que dificilmente poderia fazer mal a outrem. Foi muito ponderado, gostava de tomar decisões equilibradas, que fossem consentâneas com o assunto, que não ferisse a sensibilidade de uns e outros. Portanto, foi uma pessoa muito boa para mim”.

Essa ponderação e esse diálogo de que fala é efectivamente aquilo, que neste momento, sobressai de uma forma transversal sobre Evaristo Carvalho. Se, por um lado, se poderia criticar o ex-Presidente por demorar muito tempo a tomar decisões, por outro, era sinal de que tentava esgotar todas as possibilidades de diálogo antes de passar a um outro patamar.

O facto de ele levar muito tempo para tomar decisões era justamente para que ao tomá-las elas fossem acertadas, fossem decisões que fossem ao encontro de uns e de outros, que estivessem repletas de justiça para todos”. 

Ele fez apenas um único mandato como presidente do país, todavia o percurso de Evaristo Carvalho é transversal à política são-tomense.

Ele não só trabalhou com o Presidente Miguel Trovoada, mas trabalhou durante muitos anos com o Presidente Manuel Pinto da Costa, o primeiro presidente do país. Por conseguinte, mesmo no seio do MLST-PSD, na altura partido único, ele exercia as funções partidárias e também funções políticas e de Estado. Antes de ser ministro, foi director de gabinete do Presidente Manuel Pinto da Costa. Foi uma figura de destaque no seio do partido único, do MLST. Um colaborador muito próximo do Presidente Pinto da Costa durante o partido único e, depois, mais tarde, por discordar com alguma orientação afastou-se do MLSTP sem confusão, sem problemas nenhuns. Manteve-se sempre disponível para colaborar, dando a sua colaboração para o desenvolvimento do país. Tinha um conhecimento administrativo extraordinário, trabalhou na administração colonial em lugares de destaque e pôs esse conhecimento todo à disposição da república democrática de São Tomé e Príncipe”. 

Inclusive também fez parte das negociações de Argel? 

Sim, sim fez parte das negociações de Argel. Ele não teve tempo suficiente para escrever as suas memórias”.

Já foi a saúde frágil que o levou a não se candidatar a um segundo mandato? 

Ora justamente, este foi um dos motivos para ele não ser candidato. Ele já se sentia muito debilitado”.

Que legado deixa o ex-presidente para o país e para estas gerações mais novas de de são-tomense? 

Deixa um forte legado, de que as divergências, os diferendos devem ser resolvidos por via do diálogo, portanto com ponderação e sem nos precipitarmos. Analisar com frieza os assuntos para que possamos viver na divergência, sim, mas na união também".

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