Prefeita de Paris vai processar TV americana por exageros em cobertura de atentados

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, confirmou que vai processar a emissora de TV americana Fox News por ter divulgado informações incorretas sobre a cidade, durante a cobertura dos atentados nos dias 7, 8 e 9 de janeiro. O canal disse que a capital francesa possuía bairros proibidos para os não-muçulmanos e onde nem a polícia conseguiria entrar.

Jornalista Nolan Peterson comparou bairros de Paris a Bagdá. capture d'écran

Em uma entrevista à emissora CNN nesta quinta-feira (7), Hidalgo reafirmou a decisão de processar a Fox News por difamação. Segundo a prefeita, a cobertura do canal conservador foi “insultante” e “trouxe prejuízos para a imagem e a honra da cidade”.

A socialista quer que os responsáveis pela divulgação das informações sejam identificados e pretende pedir, na Justiça francesa, uma indenização pelos danos causados. Na terça-feira (10), Hidalgo vai apresentar a proposta para votação aos conselheiros de Paris - representantes eleitos, semelhantes aos vereadores.

Lei islâmica e camisetas de Bin Laden

Tudo começou no dia 8 de janeiro, um dia depois do ataque ao jornal Charlie Hebdo, no 11º distrito de Paris. Na tentativa de contextualizar a realidade na França, que tem uma das maiores comunidades muçulmanas da Europa, a Fox afirmou que diversos bairros da cidade eram proibidos para os não-islâmicos. Nestes locais, chamados pelo canal de “no-go zones”, os moradores andariam nas ruas com camisetas de Osama Bin Laden, ex-líder da rede terrorista Al Qaeda, e a lei islâmica, a charia, teria sido adotada sem restrições por parte das autoridades francesas.

Um jornalista da emissora, apresentado como especialista em conflitos, também comparou o perigo nesses bairros a países em guerra como o Iraque e o Afeganistão. Entre os locais citados, estão bairros turísticos como Montmartre e a região central de Paris.

“Em 10 minutos de táxi a partir da torre Eiffel, você passa por ruas que se parecem com Bagdá”, declarou Nolan Peterson. O mapa mostrado pela Fox na realidade corresponde à indicação das “zonas urbanas sensíveis”, locais considerados prioritários para as políticas públicas municipais.

Europa permitiria invasão muçulmana

A emissora foi ainda mais longe – informou que a situação se repete em outros países da Europa, como o Reino Unido, e questionou “por que a Europa está deixando os muçulmanos tomarem conta do continente”. O canal entrevistou o líder da extrema-direita britânica Nigel Farage para falar sobre o assunto. Depois de uma avalanche de críticas na imprensa francesa, o canal americano pediu desculpas públicas pelas informações erradas.

Para os conselheiros de oposição, a realização de um processo é uma reação exagerada. “O tratamento dado pela Fox News foi escandaloso, mas seria melhor pedir um direito de resposta e convidá-los para conhecer de perto a situação”, declarou a presidente do partido conservador UMP no Conselho de Paris, Nathalie Kosciusko-Morizet. Já os conselheiros socialistas, verdes e comunistas disseram que pretendem aprovar a proposta da prefeita.