Acesso ao principal conteúdo
Angola

Bonga recebeu "Grande Prémio da Música do Mundo" em Paris

Bonga recebeu, esta quinta-feira à noite, em Paris, o "Grand Prix des Musiques du Monde" [Grande Prémio da Música do Mundo] atribuído pela SACEM [Sociedade de Autores, Compositores e Editores de Música]. A associação profissional francesa descreve-o como “figura de proa da música angolana” que “atribui todo o sentido à noção plural de africanidade”. Para Bonga, o prémio é o "reconhecimento do valor, do esforço e da tradição respeitada de Angola".

Bonga.
Bonga. © Alex Tome
Publicidade

A Sociedade de Autores, Compositores e Editores de Música francesa (SACEM) atribuiu, esta quinta-feira à noite, os prémios anuais numa cerimónia na Maison de la Radio, em Paris. O cantor, autor e compositor angolano Bonga recebeu o “Grand Prix des Musiques du Monde", numa noite em que o cantor e compositor britânico Harry Styles recebeu o prémio da melhor obra internacional com a canção “As It Was” e a cantora francesa Zaho de Sagazan, autora do disco “La Symphonie des Eclairs”, foi considerada “a revelação” do ano. O músico francês David Guetta foi distinguido na categoria de música electrónica, o grupo Gojira recebeu o Grande Prémio do Rock, o rapper Booba obteve o Grande Prémio das Músicas Urbanas e o Prémio Especial foi para a cantora francesa Zazie.

Figura de proa da música angolana, Bonga atribui todo o sentido à noção plural de africanidade. De Luanda a Roterdão, de Paris a Lisboa, e em todo o lado, ele é dos autores-compositores africanos que sublimam as suas raízes e fascinam os ouvintes”, resume a SACEM na publicação onde enumera os premiados.

A associação profissional francesa recorda também o seu percurso. Nascido a 5 de Setembro de 1942, em Kipiri, José Adelino Barceló de Carvalho aprendeu música com o pai pescador e acordeonista que o introduz também ao semba, símbolo da identidade nacional angolana. Na adolescência, o cantor muda o nome para Bonga, afirmando a sua oposição à colonização portuguesa. “Desde a juventude, o artista percebe o alcance político e poético da sua música. Com a sua voz áspera e poderosa, ele abre um caminho que exprime os males do povo angolano e as aspirações de libertação da sua geração”, escreve a SACEM.

Em 1972, Bonga grava, em Roterdão, o primeiro álbum, “Angola 72”, um disco que rapidamente se torna na “banda sonora da luta pela independência angolana”, nomeadamente com o tema “Mona Ki Ngi Xica”. O seu percurso continua em Paris, onde Bonga grava o segundo disco “Angola 74”. Depois da queda da ditadura portuguesa e do reconhecimento da independência de Angola, Bonga volta a viver entre Luanda e Lisboa. Em 2000, o artista canta a reconciliação nacional e o fim do conflito angolano com a música “Mulemba Xangola”. Os discos “Kaxexe” (2003), “Maiorais” (2005) e “Bairro” (2008) continuam a escrever “a lenda de um cantor em movimento perpétuo”, lê-se ainda na descrição da SACEM.

A SACEM sublinha, ainda, que hoje em dia Bonga é retomado por vários autores e compositores, como Bernard Lavilliers que interpreta, em francês, “Mona Ki Ngi Xica”, enquanto os músicos Gaël Faye e Lexxus Legal apontam-no como modelo, e a cantora portuguesa Ana Moura o chamou para uma homenagem a Amália Rodrigues.

Contornando as fronteiras geográficas e musicais, com um canto e composições que falam a muita gente, Bonga é a voz de uma Angola moderna e pacificada”, conclui a SACEM.

05:53

Bonga e o prémio SACEM

81 anos de "uma música de alerta"

Para Bonga, o prémio é o "reconhecimento do valor, do esforço e da tradição respeitada de Angola" e a música de intervenção continua a ser a sua missão, mesmo aos 81 anos. 

 

RFI: O que significa este prémio francês para si?

Bonga: Reconhecimento do valor, do esforço, da tradição respeitada de Angola e a divulgação consequente. Isso é muito bom. E põe Paris nos píncaros daqueles que se interessaram, que viram, que analisaram, que preferiram, que dão força, enfim, tanta coisa junta. Aliás, as portas que Paris abriu. Eu estava na Holanda, Paris abriu as portas e eu vim e nunca mais de cá saí. Em matéria de divulgação, na verdade, divulgação consequente dos discos que são vendidos aqui, os espectáculos que são feitos aqui, com a conivência do meu agente e a ex-Lusafrica. Quer dizer, é o que tem havido em matéria de atitude fonográfica, divulgação e os espectáculos que ainda continuo a fazer e este grande público que está comigo e que me acompanha. Todos os espectáculos têm casa cheia, o que é muitíssimo bom.

O prémio foi atribuído por profissionais do sector musical em França. O Bonga não é francês ou este prémio mostra que o Bonga acabou por se tornar francês, fruto da sua carreira?

Não. Sou angolano de gema, continuarei a ser angolano de gema, como um francês continua a ser francês em qualquer lado do mundo. Por conseguinte, é nessa condição que eu recebo todos os apoios e divulgações e espectáculos. Enfim, com a idade que eu tenho, ainda ser solicitado como sou, considero-me um privilegiado e a minha canção ir tão longe quanto eu nunca imaginei.

O público francês adoptou o Bonga, mas a sua mensagem é sempre a do povo angolano?

Absolutamente. Tem a ver com a minha vivência nos primeiros 23 anos de vida, em contacto com a verdadeira história dos angolanos antes da colonização e com os grandes velhos - que, para nós, são grandes enciclopédias - que me foram dando os recados que eu transmito através da música que faço, o que é muitíssimo bom.

A SACEM diz que o Bonga é “a voz de uma Angola moderna e pacificada”. É mesmo assim? A música de intervenção com alcance político continua a ser necessária hoje ou Angola está completamente pacificada?

Bem, isso é o propósito da SACEM que não tem nada a ver com o propósito do Bonga...

Qual é o propósito do Bonga?

Música de intervenção consoante a situação real do povo. E a situação real do povo nem sempre é uma situação feliz, com as carências que todos nós sabemos e alguns fazem vista grossa, não é? Por conseguinte, a música do Bonga também retrata as dificuldades que o povo tem passado. É uma música de alerta, é uma música de chamamento à responsabilidade de quem tem por obrigação de pôr aquilo a funcionar como deve ser - porque Angola tem condições. Por conseguinte, esta música é uma música que fala de tudo um bocadinho no bom sentido: da felicidade das pessoas que depende do comportamento dos homens, principalmente daqueles que mandam. É tudo isso aí que está embebido nestes grandes temas musicais e já são mais de 400 músicas, o que é muita fruta!

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Partilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.